As receitas foram muitas, mas a melhor forma de se ganhar uma eleição ainda é ter um candidato com conteúdo e capaz de somar votos. Parece óbvio, mas a síntese defendida pelos papas da estratégia eleitoral dos EUA e do Brasil, que participaram do encontro internacional de marketing político MaxiVoto, realizado em São Paulo na última semana com apoio de ISTOÉ, foi desmistificar o poder do marketing nas campanhas. O ponto alto do encontro – que reuniu os americanos Dick Morris, que levou Clinton à reeleição, e Mark Mckinnon, conselheiro de George W. Bush, entre outros – foi o tempero baiano de Duda Mendonça, que está trabalhando para
o PT e de Nizan Guanaes, que atua no marketing de FHC. Mestre
e discípulo duelaram.

Duda e Nizan mostraram que no vatapá político de 2002 vai ter muita pimenta e dendê. No auge da discussão ideológica, o bate-boca: “Você está perdendo o bom humor?”, perguntou Nizan. “Não faço demagogia, não planto notinhas em jornais”, replicou Duda. Na tréplica, Nizan fez piada: “Esse negócio de plantar aqui e ali é coisa de agricultor… Não há nada que eu tenha falado do PT que seja ao menos parecido com o que você falou na campanha do Maluf.” Para Nizan, Lula não tem preparo para governar o Brasil e foi categórico ao afirmar que as eleições serão plebiscitárias, sem o contexto de bem contra o mal. “Eu também amadureci ao longo dos anos, mas não estou preparado para ser presidente do Brasil”, afirmou Nizan. Na defesa de Lula, Duda ressaltou que o ex-metalúrgico “mudou e quer mudar o Brasil. Você fez um discurso defendendo FHC nos dois mandatos e ainda quer um terceiro. Eu defendo o outro lado, principalmente a alternância de poder”.

Nizan aplaudiu Duda quando o publicitário do PT respondeu uma pergunta da platéia sobre as críticas da mídia à imagem de Lula, ora radical, ora aburguesado. “Antes batiam no Lula porque ele era radical e não se vestia bem. Agora o criticam porque está bem vestido e falando bem.” Nizan confessou que preferia como candidato do PSDB o governador do Ceará, Tasso Jereissati, devido ao seu carisma, e admitiu que um dos seus maiores erros foi ter trabalhado para José Serra em 1996, quando ele disputou as eleições para a Prefeitura de São Paulo. Quanto à dificuldade de imagem de José Serra, Nizan, de forma bem-humorada, disse que o ex-ministro não é “nenhuma Nossa Senhora da Simpatia”.

Um outro ponto polêmico ficou por conta de Dick Morris. Para o americano, os partidos políticos estão perto do fim. Ele previu o crescimento de Garotinho, defendendo a tese da personalização das eleições, e aconselhou Serra a desvincular-se da imagem de FHC, dando como exemplo Al Gore e Clinton. Disse ainda que o Brasil precisa aproveitar a economia globalizada para se fazer ouvir. Segundo Morris, a moeda forte brasileira é a Amazônia. “Vocês têm a chave para salvar o planeta, mas precisam se dirigir ao Primeiro Mundo dizendo: ‘Ok, vocês vão ter que consumir o nosso suco de laranja, a nossa carne. Vocês têm que nos dar capacidade de suprir nossas necessidades’.” O conselheiro de Bush também não se esquivou de comentar a política brasileira. Para Mackinnon, os maiores desafios enfrentados por Bush na campanha são os mesmos de Lula: o senso comum e a economia. “Lula tem que transmitir perseverança, convencer o eleitor de que nunca desistiu porque nunca deixou de acreditar.”