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REBELIÃO DAS BASES Maria do Rosário comemora a vitória contra o ex-ministro Miguel Rossetto nas prévias do PT em Porto Alegre

Para o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), foi um recado claro. "De um lado, se unem todas as estrelas do PT do Rio Grande do Sul – Tarso Genro, Dilma Rousseff, Olívio Dutra, Raul Pont, Henrique Fontana. Do outro lado, uma deputada que até outro dia era filiada ao PCdoB. E a base do PT prefere a deputada ao nome escolhido pelas estrelas petistas. É ou não é para se pensar?", comenta o deputado paulista. A vitória da deputada Maria do Rosário na prévia do PT para a escolha do candidato do partido à Prefeitura de Porto Alegre, no sábado 15, é o mais bem definido exemplo de como a cúpula do PT ultimamente caminha para um lado e a base do partido segue por outro. Mesmo com o apoio declarado do ministro da Justiça, da ministra da Casa Civil, do ex-ministro das Cidades, do ex-prefeito de Porto Alegre e do líder do governo na Câmara, o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário Miguel Rossetto perdeu a disputa para Maria do Rosário. Foi uma vitória apertada, por apenas 56 votos num universo de 4.330 sufrágios. O que ela parece revelar, porém, é como ainda permanece forte no PT a cicatriz do escândalo do Mensalão, e as suas conseqüências na luta interna no partido.

"Eu acho que a base do PT está um pouco cansada desses líderes que só querem fazer a luta interna", provoca Maria do Rosário. "Se queremos provar que somos diferentes, temos que apresentar propostas diferentes é para a sociedade, e não somente para a dinâmica interna do próprio partido. Foi o que fizemos em Porto Alegre. E isso empolgou a base", diz ela. O que houve em Porto Alegre é reflexo do rumo que tomou o discurso de "refundação" do PT, defendido por Tarso Genro, depois que estourou o escândalo do Mensalão. Em vez de promover a mudança, o grupo arregimentado por Tarso, e que reúne a maior parte dos petistas com cargos no primeiro escalão do governo, acabou se aliando ao presidente do PT, Ricardo Berzoini, e à cúpula do partido. Mas eles deixaram de lado o grupo da ministra do Turismo, Marta Suplicy, antes também aliado ao chamado Campo Majoritário. É principalmente o grupo de Marta que vem imprimindo derrotas à cúpula ministerial do PT. Uma briga que poderá ter reflexos na sucessão presidencial. O grupo não aceita que a candidata do PT à Presidência em 2010 seja Dilma Rousseff.

Resta agora saber se os projetos da cúpula petista terão sucesso em Minas Gerais. A direção do PT admite estabelecer como exceção à regra de que o partido só faça alianças com partidos da base governista o caso de Belo Horizonte, onde o prefeito Fernando Pimentel prega uma aliança com o PSDB de Aécio Neves para eleger Márcio Lacerda, do PSB. O problema é que o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, trabalha forte agora para abortar a aliança. Nos próximos dias, Patrus terá uma reunião com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e com o vice-presidente, José Alencar, para trabalhar uma alternativa. Patrus já aceita sair como candidato a prefeito, e espera apenas o aval pessoal de Lula.

A cúpula ministerial do PT já havia perdido a disputa pela presidência do partido, quando apoiou o deputado José Eduardo Cardozo, que nem sequer foi para o segundo turno. Perdeu também a disputa pelo diretório de São Paulo, vencida por Edinho Silva contra Zico Prado. "A base do PT está emitindo sinais de alerta", considera Vaccarezza. Para o grupo de Marta, do qual Vaccarezza faz parte, a cúpula petista hegemônica no governo quer impor os rumos do PT na sucessão sem discutir com o partido. "A Dilma chegou a Porto Alegre e cometeu a indelicadeza de dizer a Maria do Rosário que em política existe fila, e que ela tinha de respeitar a fila. A Dilma era do PDT, entrou no PT em 1990. Se em política existe fila, então o lugar dela na fila da candidatura presidencial é lá atrás", fulmina um petista do grupo de Marta.