Longe das telas, o ator baiano Wagner Moura, 26 anos, bem que se esforça para parecer uma pessoa comum. Mas quando seu rosto redondo inunda a sala de cinema como o divertido Taoca do filme Deus é brasileiro, o espectador sabe que está diante de um talento reconhecido. Quem assistiu ao filme de Cacá Diegues – um dos grandes sucessos da temporada, já visto por mais de um milhão de pessoas – concorda que é Taoca quem mais brilha na história de João Ubaldo Ribeiro, adaptada pelo próprio. A inocência, às vezes disfarçada de certa malandragem, o humor circense e o coração do mesmo tamanho que sua alegria, sempre disposta a encobrir as agruras do cotidiano, fazem de Taoca um dos personagens de maior empatia do cinema brasileiro. O papel lhe valeu o convite para encarnar Pedrinho, filho de Stênio Garcia na reedição da série global Carga pesada, prevista para ir ao ar em abril. Também em abril ele volta à tela grande na pele do violento Zico, um dos protagonistas de Carandiru, o aguardado filme de Hector Babenco, baseado no livro do médico oncologista Drauzio Varella, sobre os bastidores do extinto presídio paulista.

Devido ao destaque na fita de Diegues, já há quem acuse Wagner Moura de, provavelmente, ser intérprete de um só papel. Mas o rapaz tem fortes defensores, entre eles o diretor de teatro João Falcão, que o viu na peça Abismo de rosas e depois o convidou para trabalhar em A máquina. “Ele é um dos melhores atores desta nova safra. Pode fazer o que quiser”, diz Falcão, também lembrando de sua boa atuação em Abril despedaçado, de Walter Salles. “Wagner é supertalentoso, de uma grande intuição e inteligência. Adoraria voltar a trabalhar com ele”, endossa Salles. Elogios também sobram por parte de Cacá Diegues. “É delicioso trabalhar com ele. Wagner tem muita imaginação e disciplina.”

Filho do militar José Soares de Moura e da dona-de-casa Alderiva Maniçoba de Moura, o ator que passou a infância na cidade de Rodelas, sertão baiano, chegou a vacilar entre o jornalismo e as artes cênicas. Trabalhou no jornal Correio da Bahia, tentou uma assessoria de imprensa, mas faliu com os calotes dos clientes, por coincidência seus colegas de palco. Hoje, já não há mais dúvidas. “A fantasia do trabalho de ator me instiga.” No segundo semestre, ele também estará no filme O caminho das nuvens, de Vicente Amorim, história verídica de um homem que viaja de bicicleta do Nordeste ao Rio de Janeiro, levando os cinco filhos. “Fiz este trabalho para meu pai, um homem muito doce que, aos 17 anos, saiu de sua cidade natal no pau-de-arara para tentar a sorte no Rio”, conta ele, com seu sotaque híbrido.

Além de atuar, Moura adora cantar. Quando morava em Salvador,
tinha uma banda e estava sempre regravando canções bregas com
novas roupagens. “As letras são muito bonitas. As pessoas têm preconceito e nem reparam”, defende o fã de Reginaldo Rossi, Waldick Soriano e vários cantores baianos. Seus conterrâneos, por sinal, ainda são sua turma, mesmo morando há dois anos em Botafogo, zona sul carioca. Quando não está em casa com a fotógrafa baiana Sandra Delgado, com quem se casou há dois anos, costuma sair com eles.
“Aqui existe uma colônia de atores baianos que se juntou aos pernambucanos. Virou uma nação maracatu”, brinca.