Dentro dos campos, Pelé foi um colecionador de recordes. Em pouco mais de 20 anos de carreira marcou 1.281 gols, conquistou uma infinidade de títulos, entre eles o tricampeonato mundial de futebol com a Seleção Brasileira, o bicampeonato mundial de clubes com o Santos e foi eleito o Atleta do Século. Fora das quatro linhas, no entanto, o cidadão Edson Arantes do Nascimento não demonstra a mesma habilidade. Na quarta-feira 10, a revista ISTOÉ gente revelou a existência de Flávia Coutinho Kurtiz, 32 anos, a segunda filha de Pelé fora do casamento. A primeira, Sandra Regina, precisou recorrer à Justiça para ser reconhecida. Com Flávia foi diferente. Em 1994, o Rei a reconheceu e desde então ela recebe ajuda financeira de Pelé. Mora em um apartamento no Morumbi, na zona sul de São Paulo, que, aliás, é alvo de uma disputa judicial. A paraibana Magna Aparecida Alves, 24 anos, a mais nova dor de cabeça de Pelé, se diz dona do imóvel. E conta mais. Ela revelou na última semana detalhes de um romance secreto de três anos com o Rei. Magna só chama Pelé de Edson e assegura que o romance começou em janeiro de 1999 e durou até fevereiro deste ano. O namoro secreto não deixou filhos, em compensação, ficou um problema com 61,14 metros quadrados, localizado no 3º andar de um edifício no Morumbi. Trata-se do apartamento onde mora Flávia. O imóvel está registrado no nome de Magna no 16º tabelião de notas da capital. “Agora quero que ela desocupe o apartamento”, diz Magna. Na quarta-feira, os advogados Alberto da Silva Cardoso e Cláudio Forsell Ferreira deram entrada em dois processos no Fórum de Pinheiros. Em um deles pedem a imediata reintegração de posse do imóvel ocupado por Flávia. No outro, cobram de Pelé uma indenização para Magna.

“Ele foi o primeiro homem da minha vida. Depois, pediu que eu fizesse uma operação para reconstituir a virgindade. Quando minha mãe descobriu isso ficou mais de um ano sem falar comigo”, lembra Magna. A história com o Rei começou pouco mais de um ano após a chegada da moça a São Paulo. No final de 1997, ela e a irmã Luciana Aparecida deixaram a pequena Rio Tinto, cidade localizada a 61 km de João Pessoa (PB), onde Magna passou a infância e a adolescência ao lado da mãe e dos quatro irmãos. “Meu sonho era estudar e ser advogada”, afirma. Quando chegou em São Paulo, Magna foi vender jornal na esquina das avenidas Rebouças e Brasil, um dos cruzamentos mais movimentados da cidade. Depois, ela e a irmã foram trabalhar no Gitana, na época uma badalada casa noturna. Luciana ficava na chapelaria e Magna ajudava a fechar as contas no caixa. Rapidamente foram promovidas a garçonetes. O contato direto com a clientela as aproximou de vários frequentadores da casa. Um deles, o médico Eduardo Gomes, amigo de Pelé, ficou muito próximo de Luciana. Por intermédio do amigo, o Rei do futebol conheceu a jovem paraibana. De acordo com a garota, Pelé, que havia conseguido o telefone delas com o médico, ligou no mesmo dia querendo marcar um encontro. “Eu disse que não. Ele era um homem casado. Não me sentiria bem ao lado dele. Mas o Edson não desistiu. Continuou ligando”, lembra.

Promessas – Meses depois, após inúmeros telefonemas e convites, Magna finalmente aceitou almoçar com Pelé. O encontro, segundo ela, aconteceu em um apartamento na alameda Joaquim Eugênio de Lima, onde as irmãs viriam a residir meses depois, uma gentileza do próprio Pelé. No mesmo encontro estavam o médico Eduardo e Luciana. “Eu não queria saber de relações com um homem casado, mas ele sempre dizia que seu casamento estava acabado e a separação era uma questão de tempo”, conta Magna. “Certa vez eu vi a Gabi entrevistando a Assíria (mulher de Pelé) e ela disse que era muito feliz com o Edson. Eu escrevi perguntando a ele se tudo o que ele me dizia era mentira. Ele me respondeu que só mantinha o casamento porque a sociedade exigia.”

Peixes e Bíblia Os encontros do casal começaram a ser frequentes. “Muitas vezes, ele anuncia que está fora do Brasil, mas está, na verdade, levando uma vida de solteiro em São Paulo”, confidencia a moça. Depois de aproximadamente seis meses de namoro, Magna e Luciana aceitaram uma proposta feita por Pelé. Deixaram de pagar aluguel na Vila Olímpia para morar no apartamento da alameda Joaquim Eugênio de Lima, onde o namoro começou. Segundo ela, Pelé dizia que o apartamento pertencia a um amigo. O dinheiro economizado do aluguel as irmãs destinaram para o pagamento das prestações do apartamento do Morumbi, hoje ocupado por Flávia e alvo da ação na Justiça. Magna recorda-se que a vida íntima do casal era um sossego. Segundo ela, os dois passavam a maior parte do tempo em casa. “Pelé gostava de cozinhar, quase sempre peixe. Eu lavava a louça e sempre rezávamos juntos e líamos a Bíblia”, conta. “Às vezes íamos a um sítio perto de São Paulo para plantar.”

Há cerca de dois anos, Magna e a irmã se mudaram para um outro apartamento, no Itaim, onde residem até hoje. O aluguel, segundo ela, é pago por Roberta Rezende Ribeiro, uma antiga funcionária de Pelé. O namoro durou três anos. Magna diz que era conhecida dos funcionários do Rei e tinha livre trânsito em suas empresas. Lembra que uma vez estava no escritório da Pelé Sports & Marketing quando se deparou com Assíria. “Para evitar constrangimentos, fiquei quietinha em uma sala até que ela fosse embora”, assegura. Pelé começou a se distanciar de Magna no final do ano passado, quando surgiram as primeiras denúncias sobre o desvio de dinheiro do Unicef. Em vez de mimos e carinhos, o Rei, segundo Magna, passou a mandar recados para que ela e a irmã desocupassem o apartamento onde estão agora.

Briga judicial – A história de Magna e Pelé não poderia ter final mais melancólico. A gravação de uma conversa telefônica entre o casal revela isso. Pelé lamenta ter recebido recados dizendo que a mãe de Magna estaria ameaçando revelar publicamente o romance secreto da filha no Programa do Ratinho. Magna explica que a mãe não consegue aceitar o fim do romance, uma vez que foi Pelé quem tirou a virgindade de sua filha. A confusão vai mais além. O diálogo revela que o que está em jogo é o apartamento do Morumbi, avaliado em aproximadamente R$ 100 mil. Na conversa, Pelé diz não aceitar de maneira nenhuma a exigência de R$ 30 mil que teria sido feita por Magna para assinar os documentos que transfeririam a posse do apartamento para um certo Pedrinho, amigo de Pelé. O rei explica que Magna estava para perder o imóvel por não conseguir pagar as prestações e seu amigo teria comprado o apartamento fazendo um favor para ela. No mesmo diálogo, Magna apenas nega a exigência dos R$ 30 mil. Em conversa com a reportagem de ISTOÉ, na quarta-feira 10, ela afirmou que o dinheiro recebido de Pedrinho não se referia à venda do imóvel, mas, sim, a um empréstimo inferior ao valor do apartamento feito com o consentimento de Pelé para saldar a dívida de prestações atrasadas. “Meus pais deram o dinheiro para a entrada e só atrasei as prestações porque Edson ficou de fazer documentos que comprovassem minha renda para obter o financiamento e não fez os documentos. Preciso desse apartamento, pois nele estão todas as economias de meus pais”, conta. Na quinta-feira 11, o jornalista e advogado Carlos Nasser, consultor da Pelé-Pró, informou que Pelé estava viajando do México para Nova York e não teria como se manifestar até o fechamento desta reportagem.

No meio deste rolo está Flávia, a filha que Pelé admite ser sua e que atualmente mora com o marido no imóvel que lhe foi oferecido pelo pai. Certamente, Pelé não terá dificuldade em encontrar outro lugar para a filha morar. A briga com Magna, porém, parece estar longe de um desfecho e muita lama poderá sair debaixo do tapete, inclusive alguns prováveis testas-de-ferro do atleta do século, como admitem os advogados Alberto da Silva Cardoso e Cláudio Ferreira.