Os institutos de pesquisa estão medindo não só a ascensão e queda dos presidenciáveis, mas também a performance dos aliados e agregados de cada candidato ao Palácio do Planalto. Entre todos, sobressai uma estrela com brilho inédito: Patricia Pillar, atriz de primeiro time, mulher de Ciro Gomes. Inteligente, carismática, com imagem pública associada às causas sociais em novelas de tevê, suas palavras repercutem como a chancela do politicamente correto. Para Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, não há como quantificar a importância de Patricia no crescimento de Ciro, mas inegavelmente com ela a candidatura se fortalece. “Ela tem sido importantíssima e ajuda a consolidar a posição dele. Ciro é carismático, tem emoção e a combinação com Patricia o fortalece”, atesta Montenegro.

A equipe de Ciro não gosta de atribuir à atriz o papel de carreadora de votos. O coordenador de marketing do PPS, Einhard Jacomi da Paz, diz que o partido não dá palpites sobre a ação de Patricia na campanha. “A presença dela é excelente por ser natural. Nada é construído.” Patricia se esquiva como pode da mídia, sempre com elegância. Foge do termo primeira-dama como diabo da cruz. Mas uma coisa é certa: a atriz deixou a ribalta para se dedicar à carreira do parceiro, emprestando charme, organizando encontros e ajudando na edição do livro de Ciro. Na terça-feira 23, em encontro com artistas no Macksoud Plaza Hotel, em São Paulo, a atriz ouvia mais uma vez a ladainha de Ciro sobre globalização com a atenção da primeira vez. “Gosto de trabalhar e defender um projeto político no qual acredito”, justifica. Ela se irrita quando alguém atribui a ascensão do marido ao Efeito Pillar. “Isso não existe.” Mas é consciente do peso de sua credibilidade. “Tenho 20 anos de carreira e construí uma postura de vida. Fico contente em saber que as pessoas confiam em mim.”

O presidente do Ibope frisa o comportamento admirável de Ciro quando o câncer se abateu sobre a atriz. Patricia descobriu a doença no seio no fim do ano passado e o candidato fechou a agenda para ficar a seu lado em duas cirurgias – a retirada do nódulo para a biópsia e a outra para pesquisar a contaminação de gânglios –, além de acompanhá-la nas sessões de quimioterapia e radioterapia. A dedicação comoveu o público quando Patricia tornou pública sua batalha. “Todo mundo participou do processo e viu o carinho dele”, diz Montenegro. Segundo ele, a campanha não tem “usado” Patricia Pillar. Ou seja, a trajetória de discrição e seriedade da atriz está sendo mantida. “Está na medida certa”, elogia.

Para a analista política Lucia Hippolito, não há dúvida de que a conjugação dos bons fatores que cercam Patricia é repassada para Ciro. Mas ressalva que “ninguém faz chover no deserto”: a atriz apenas ajuda a multiplicar o que o marido conquista. “Se ele fosse um cafajeste, ela não transferiria nada.” Lucia diz que a relação de amor evidente entre o casal emociona o eleitorado, especialmente o feminino. “Eu o vi começando uma entrevista com uma declaração de amor a ela. Na doença, enfrentou junto. A mulherada quer esse marido.”

Sucesso – A tese foi comprovada pela pesquisadora Maria Teresa Monteiro, do Instituto Retrato, que faz medições qualitativas. O instituto apontou um fenômeno nacional: o surgimento espontâneo do nome de Patricia e o sucesso avassalador do casal no universo feminino. “A atitude amorosa, a doença e suas personagens na tevê são muito importantes entre as mulheres”, diz Maria Teresa. “O câncer remete à morte. As pessoas acham que alguém que passa por isso adquire uma visão de mundo diferente e privilegia as questões essenciais, rejeita as periféricas. Acreditam que Patricia não se empenharia se não acreditasse no caráter dele”, explica.

A veterana Eva Wilma, 68 anos, que contracenou com Patricia no seriado Mulher, concorda. “Ao mesmo tempo que leva seu prestígio ao candidato, ela toma o cuidado de não ofuscá-lo. Faz isso muito bem,” afirma. Maria Teresa Goulart, 62 anos, que enfeitava os palanques do marido-presidente João Goulart, ainda não decidiu seu voto, mas é fã de Patricia. Conhecida como a mais bela primeira-dama da história do País, Maria Teresa diz que a estética de Patricia seria um colírio para o povo. “Ela não é só uma mulher bonita. Possui uma personalidade fantástica, é alinhada e competente.”

A quimioterapia terminou em maio e Patricia demonstra um fôlego surpreendente. Parece fazer tudo na vida de forma inteira, sobretudo na profissão. Os colegas são os primeiros a aplaudi-la. “Sugeri que Patricia fosse morar algumas semanas com os sem-terra para compor Luana em O rei do gado. Voltou trazendo uma profunda emoção. Não é apenas uma atriz, mas alguém que sempre primou pela reflexão no que faz”, tieta o diretor Luiz Fernando Carvalho. O ator Marco Nanini, que fez com ela o filme Amor e companhia, de Helvécio Ratton, endossa: “Patricia tem o fôlego de cavar coisas, fora seu talento.” Outro que não economiza elogios é Fábio Barreto, que a dirigiu em O quatrilho, finalista do Oscar em 1996: “Estou pronto a realizar novos projetos de cinema com ela. É uma das melhores atrizes brasileiras.”

Patricia sempre foi precoce. Nasceu de oito meses no corredor do Hospital de Base de Brasília, surpreendendo a mãe, Luci, uma funcionária pública, e o pai, Nuno, capitão da Marinha. Magricela, ossuda, míope, aparelhos nos dentes, pensou em ser psiquiatra, interrompeu o curso de comunicação e desistiu de tudo para ser atriz. Começou no Teatro Tablado, de Maria Clara Machado, no Rio de Janeiro. O convite para a tevê foi do já falecido diretor Paulo Ubiratan e a estréia, na novela Roque Santeiro, em 1985, aos 21 anos. Seu último trabalho na tevê foi no ano passado, na novela Um anjo caiu do céu.

Foi casada por dez anos com o músico Zé Renato e só recebe elogios do ex: “Ela é generosa, uma lição de vida.” Patricia conheceu Ciro quando era ministro da Fazenda de Itamar Franco e assumiu a relação quando ele se separou da primeira mulher, Patrícia Gomes, em 1999. Está com 38 anos, tem 1,70 m e oscila nos 55 quilos. É flamenguista. Já votou em Lula, no segundo turno de 1989, e em Fernando Henrique, em 1994. Agora, com os cabelos voltando a crescer depois de ter raspado a cabeça no tratamento contra o câncer, ganhou ares de menina. Os marqueteiros ainda não decidiram sobre sua participação no horário eleitoral, mas, para deleite dos fãs, ela avisa: “Estarei às ordens.”

"Primeira – dama não é profissão"

ISTOÉ – Você tem viajado muito acompanhando seu marido e demonstra vigor. Sente-se curada?
Patricia Pillar –
Quem se submeteu a uma cirurgia como eu pode se considerar 70% curado. A quimioterapia e a radioterapia aumentam ainda mais o porcentual e há os remédios para inibir a produção de hormônios. Me sinto bem, ativa, e tenho 95% de chances de estar curada. Agora é só manter os exames.

ISTOÉ – Como foi o tratamento?
Patricia –
A radioterapia foi tranquila, não senti nada. Já as oito sessões de quimioterapia, em quatro meses, foram uma barra. Ficava muito cansada. Nesse período produzi o livro de Ciro, Um desafio chamado Brasil, já na quarta edição. Ter um objetivo ajudou a enfrentar a situação.

ISTOÉ – Você e Ciro têm planos de ter filhos?
Patricia –
Temos vontade sim, mas vou esperar um ano e meio, por causa dos remédios.

ISTOÉ – Seu casamento com Zé Renato durou dez anos, em casas separadas. Você e Ciro dividem o mesmo teto?
Patricia –
Estamos casados há quatro anos. Ele tem sua casa em Fortaleza, que é sua base política e onde estão seus filhos, e eu tenho a minha, no Rio. Mas ficamos muito juntos, especialmente agora, na campanha. Me sinto compartilhando a vida com ele.

ISTOÉ – Se for a próxima primeira-dama, pretende continuar na carreira de atriz?
Patricia –
É cedo, não fico pensando nisso. Comecei no teatro e sempre trabalhei de uma maneira coletiva, participando dos figurinos, do som, dos cenários. Meu leque de interesses não se limita a ser atriz. Agora mesmo estou produzindo o CD de Eveline Hecker e vou dirigir o clipe. Primeira-dama não é profissão.