O risco que se corre, hoje em dia, nos Estados Unidos, é o de se assistir a mais um debate sobre o risco Brasil. O tema tem a tendência de vir datado e trazer elucubrações fantasiosas que a realidade já colocou por terra. Há, como sempre, exceções. A palestra “Risk Management in Brazil”, por exemplo, promovida, no último dia 7 pela Brazilian American Chamber of Commerce, de Nova York: “A mais eficiente Câmara de Comércio de país latino-americano no país”, segundo as palavras de Andres Antonius, diretor-gerente para a América Latina da empresa de inteligência corporativa Kroll, co-patrocinadora do programa. As razões para a singularidade desse evento ficam por conta do ineditismo – para americanos – de certos fatos constatados em latitudes brasileiras. Especialmente o que foi dito por dois dos três conferencistas: o jurista Eugene Rostov – sócio-fundador da empresa de advocacia Baker & McKenzie, que desde Miami conduz uma das mais respeitadas consultorias legais para quem se atreve a fazer negócios no Brasil – e o economista Albert Fishlow – diretor do departamento de estudos brasileiros e professor de assuntos públicos e internacionais da Universidade de Colúmbia, além de ser considerado um dos mais brilhantes veteranos da Universidade de Harvard e analista apuradíssimo do quadro brasileiro. O terceiro participante foi Eduardo Sampaio, gerente da Kroll no Brasil.

Sampaio, o primeiro a falar, tratou de acalmar ansiedades, garantindo que “Não haverá revoluções”. Mesmo as reformas devem tardar cerca de dois anos, na análise daquele que é pago exatamente para alertar sobre riscos no País. Credite-se a Rostov o aviso de que muito será mudado no modo de fazer negócios no Brasil. Avisou que está na rampa de lançamento um novo Código Civil nacional, com mudanças duras e pouca flexibilidade nas leis. Já o professor Fishlow identificou claramente o real risco Brasil: “A questão da violência social traça o retrato realista da insegurança no País. Enquanto não se resolver o problema da violência social, o Brasil não conseguirá captar investimentos estrangeiros e recuperar plenamente a confiança do mercado.” O outro tópico listado por ele como problema fundamental para a macroeconomia é a pobreza de investimentos reais na economia. Ou seja: enquanto se ficar apenas com o capital especulativo, o termômetro de risco estará sempre em alta. Aproveitou a sessão de perguntas do plenário para puxar a orelha de uma representante do conglomerado financeiro Citycorp, que quis saber quais as perspectivas para os bancos estrangeiros no novo governo. “Você está querendo mesmo uma consultoria grátis”, brincou. “Então recomendo que os bancos estrangeiros comecem a reformular suas políticas. Eles interromperam os empréstimos ao Brasil; não modernizaram sua tecnologia local e seus serviços, como fizeram as empresas domésticas. Assim, chegará a hora em que os brasileiros vão se perguntar se vale mesmo a pena ter bancos estrangeiros no seu país.” Fica a lição.