Dormir em um dos monumentos máximos da arquitetura moderna americana é a experiência artística proposta pelo belga Carsten Höller aos visitantes da exposição theanyspacewhatever, no Guggenheim Museum de Nova York. Com móveis em madeira, couro, seda e crina de cavalo, dispostos sobre quatro discos de vidro giratórios, a instalação Revolving hotel room (Quarto de hotel giratório) propicia uma imersão total na circularidade do edifício de Frank Lloyd Wright. Para receber o trabalho, o museu ampliou tanto seu horário de funcionamento quanto sua concepção do que seja uma obra de arte. Durante o dia, a obra pode ser visitada por US$ 18, preço do ingresso do museu, mas à noite, quando o quarto pode ser reservado para duas pessoas, as tarifas sobem para US$ 260 às segundas-feiras, US$ 549 durante a semana e US$ 799 nos finais de semana. Apesar de o preço ser o de uma diária em hotel cinco-estrelas, a proposta foi tão bem recebida que no dia da abertura da exposição, sábado 25, já não restavam noites livres até o dia 7 de janeiro de 2009, quando se encerra a mostra. A primeira hóspede foi a atriz Chloe Sevigny.

Alem do café da manhã e do serviço de quarto, incluídos na tarifa, o hóspede da instalação de Höller ainda tem direito a um vídeo, com "vista" para o mundo exterior. Exibido em uma câmera giratória, o vídeo funciona como uma janela que mostra outro trabalho do artista, a escultura Krutikow’s flying city revolving, uma construção de sete torres rotatórias, instalada na cobertura de um edifício em Manhattan. A noite no museu inclui ainda uma visita privada às outras "atrações" da exposição, como Cinéma Liberté/Bar Lounge, projeto colaborativo dos artistas Rirkrit Tiravanija e Douglas Gordon, que apresenta filmes que foram censurados nos Estados Unidos por razões políticas.

Doutor em biologia, Höller estudou ecologia evolucionária e a comunicação olfativa entre insetos. Hoje mostra-se um pesquisador do comportamento humano, interessado em como as pessoas relacionam a vida e a arte. Ele já instalou um carrossel em museu de Viena, uma tenda para jogo de frisbee e um tobogã na Tate Modern, de Londres. Mas Höller não está só em suas pesquisas: o uso do museu para projetos comportamentais, que extravasam o campo das artes plásticas, é uma tendência na arte contemporânea, e na exposição theanyspacewhatever a instalação de Höller está cercada por nove outras obras de arte que simulam situações diversas da vida lá fora. No Brasil, o público pode experimentar as sensações propostas pelo doutor Höller na 28ª Bienal de São Paulo, onde ele instalou um tobogã que leva o público do terceiro andar ao térreo, e na videoinstalação Vicinato 2, na exposição Cover, no Museu de Arte Moderna.