Na apresentação do livro de contos Várias histórias, de 1896, Machado de Assis (1839-1908) disse que há uma qualidade deste gênero literário que o torna superior ao romance, se ambos forem medíocres: “É serem curtos.” Reeditado agora, Várias histórias (Martins Fontes, 294 págs., R$ 34,50) reúne os 16 contos publicados originalmente no jornal Gazeta de Notícias e mostra o domínio do autor na arte de narrar, em curto espaço, fábulas com princípio, meio e fim, que incorporam conflitos, fina ironia, filosofia. As histórias foram escritas entre 1884 e 1891, portanto entre Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) e Quincas Borba (1891). Logo depois viria Dom Casmurro. Ou seja, o volume pertence a um momento de efervescência criativa do autor.

Alguns contos saltaram da coletânea para a fama, como A cartomante. Nele, ciúme, adultério e vingança – elementos de muitas tramas – são manipulados por uma vidente de araque que lucra com a situação. Grande frasista, soam naturais as pérolas espalhadas pela ficção. “Todos os homens devem ter uma lira no coração – ou não sejam homens”, escreve em A desejada das gentes. Já o pequeno conto Um apólogo é, todo ele, uma lição de moral. Ao sardônico estilo do escritor, filosofam uma agulha (que “abre caminho para a linha gozar a vida”) e um alfinete (que “tem cabeça” e fica quietinho onde é espetado). Ao final, o narrador explica que contou a história para um “professor de melancolia”. Nada mais machadiano.