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Nos mosteiros e conventos é tradição dar abrigo aos fiéis cansados física e espiritualmente. Durante a Idade Média, por exemplo, os hóspedes eram quase sempre peregrinos que vagavam de povoado em povoado, atrás de alívio para os pés e para a alma. Hoje a prática das grandes travessias é reservada apenas aos turistas mais aventureiros. Mas, apesar de o homem moderno preferir encurtar distâncias, sua necessidade de descanso não desapareceu. Pelo contrário. E, para muitos, o conforto continua repousando na tranqüilidade dos velhos claustros. Para atender à renovada demanda dos aflitos, essas centenárias instituições se modernizaram. Agora, além de aceitar cartão de crédito e hóspedes de outras religiões, elas têm página na internet para oferecer seus quartos aos viajantes de todo o mundo.
Só no site “Guia Monasterios”, que acompanha o mercado de mosteiros espanhóis, 210 estabelecimentos listam vagas para turistas. “Aumentou a procura pelas nossas habitações”, diz o padre Juan Javier, responsável pelos 12 quartos do “Monasterio de Oseira”, na Espanha. Para garantir lugar na hospedaria monástica, só com reserva por telefone ou internet para no mínimo três dias. A diária, cobrada para cobrir gastos, sai por 25 euros (R$ 68). “Tem gente que vem só pelo preço. Mas evitamos esse tipo de hóspede. Queremos pessoas que vêm pela paz do mosteiro”, afirma Javier.

Nem todos são tão rigorosos como o padre Javier. Mas a maioria das casas sugere que o hóspede faça uma imersão no dia-a-dia do local, contribuindo em pequenas tarefas domésticas. Na Itália há mosteiros que oferecem quartos semelhantes aos de hotéis, sem abandonar a aura religiosa. Um exemplo é o Opera della Divina Provvidenza, no centro de Veneza. Lá, até casais podem ocupar quartos com afrescos do pintor renascentista Tintoretto. Mas cobramse 189 euros diários (R$ 510) por esse conforto. Uma opção italiana mais em conta é o convento “Casa di Santa Brigida”. Lá, freiras da ordem de Santa Brigida servem refeições e trabalham na recepção por 110 euros diários (R$ 199).
Para quem busca experiências mais místicas, há boas alternativas na Espanha. “Não recebemos turistas, recebemos hóspedes em retiro espiritual”, explica o padre Miguel Muñoz, do “Monasterio El Paular “. Quem quiser se candidatar deve marcar entrevista por telefone ou internet e só será admitido se convencer um padre da necessidade da estada. O hóspede paga 40 euros (R$ 108) por dia. “Não somos um negócio. Cobramos para cobrir despesas”, diz ele, que administra dez quartos. No Brasil poucos mosteiros e conventos funcionam como instituições religiosas e hospedarias. Um exemplo que se aproxima das experiências européias é o Santuário do Caraça, em Minas Gerais. “Aqui funcionava um seminário e agora somos uma pousada administrada por padres”, explica padre Sebastião de Carvalho, responsável por uma área de 11 mil hectares. A sede tem 44 quartos e, com lotação máxima, abriga até 150 pessoas. “Nos feriados estamos sempre com os quartos ocupados”, diz. Sinal de que os brasileiros estão sentindo falta da serenidade das casas monásticas.