Pouquíssimos intérpretes conseguem traduzir com tanta exuberância o colorido rítmico da música nordestina como a paraibana Elba Ramalho. Na sua voz, forrós, xotes, xaxados e quadrilhas juninas ganham abrigo seguro e se revitalizam ainda mais nas suas incendiárias performances de palco. Agora, a cantora radicalizou dedicando um disco inteiro ao maior mestre da música nordestina, o sanfoneiro Luiz Gonzaga (1912-1989). Elba canta Luiz é uma espécie de alegre acerto de contas com seu quase início de carreira, em 1984, quando participou do álbum de Gonzagão, Danado de bom, cantando Sanfoninha choradeira.

Em seu novo trabalho, a intérprete de Banho de cheiro reforça o apego às raízes em total fidelidade ao estilo original de Luiz Gonzaga, sem apelar para recriações extravagantes. Tanto que um de seus convidados na empreitada é o sanfoneiro e arranjador Dominguinhos, herdeiro da efervescente sonoridade do mestre. Além da luxuosa sanfona de Toninho Ferraguti, presente nas faixas Quer ir mais eu e O xamego da Guiomar. Sempre harmonizando com a zabumba e o triângulo, Elba caminha delicada e respeitosamente pela obra do compositor, passando por três das suas canções clássicas, as inevitáveis Danado de bom, Vem, morena e Xote das meninas, que com ela se torna ainda mais brejeira e divertida. Mas a cantora também aposta nas menos populares, revivendo músicas esquecidas como o xote O cheiro da Carolina, gravada em 1956. Na mesma linha, emerge a divertida Calango da lacraia, de 1946, mostrando que ela sabe personificar como poucas a safadeza quase adolescente do cancioneiro nordestino. É assim que, num disco danado de bom, Elba Ramalho demonstra como é gostoso um arroz com feijão bem feito, com um tempero sutil, mas muito próprio.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias