O professor Manoel Rodrigues tornou-se conhecido em Salvador pela admiração nutrida pelo filósofo e escritor Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Em Diário do farol (Nova Fronteira, 302 págs., R$ 25), recente livro de João Ubaldo Ribeiro, fica bem claro que ele conseguiu passar para o filho a influência do francês, que atribuía à sociedade as deformações morais e éticas dos cidadãos. Em seu romance, um padre narra em primeira pessoa sua transformação num ser perverso depois de sofrer maus-tratos do pai e da tia, que tramam o assassinato de sua mãe. Para o maligno padre, o homem preocupado com a ética é um inocente e só é bem-sucedido quando não se deixa levar pelos sentimentos, o que, em parte, coincide com o pensamento do autor baiano sobre a sociedade brasileira. O clérigo do livro opta, então, pela prática do mal. Para os que não conhecem suas origens, Ubaldo esclarece que o pai truculento do livro não é o seu. “Posso garantir que minha mãe está viva”, brinca. No melhor estilo de Rousseau, Diário do farol não é panfletário, mas transparece como um homem pode ter sua personalidade deformada por agressões e humilhações.