No dia 13 de maio de 1958, em Caracas, na Venezuela, um grupo de manifestantes antiamericanos cercou e agrediu com pontapés a limusine que levava o então vice-presidente Richard Nixon, momentos antes de ele chegar ao Panteão Nacional. Nixon, já em campanha à Presidência, não sofreu sequer um arranhão em sua visita oficial ao governo venezuelano. Mas o episódio ficou conhecido como um marco da hostilidade contra Tio Sam. Na quarta-feira 20, três dias antes de o presidente americano George W. Bush desembarcar em Lima, no Peru, um atentado terrorista matou nove pessoas e deixou outras 32 feridas. Depois de ter dito que um carro-bomba havia detonado a explosão, a polícia disse que uma pessoa deixou 50 quilos de explosivos em frente ao Centro Comercial El Polo, no elegante bairro de Miraflores, apenas a alguns metros da embaixada americana, que mais se assemelha a uma inexpugnável fortaleza militar. Um outro atentado com explosivos, desta vez sem feridos, já tinha ocorrido na noite anterior, em frente ao prédio da empresa Telefónica. Mas os dois ataques terroristas não fizeram com que Bush desistisse de viajar ao Peru, onde, além do presidente Alejandro Toledo, irá se encontrar no sábado 23 com o mandatário da Colômbia, Andrés Pastrana, e o da Bolívia, Jorge Quiroga. “Não são os terroristas que vão me impedir de fazer o que é necessário para promover a amizade no Hemisfério. Pode apostar que eu vou”, disse Bush antes de deixar a Casa Branca.

“Temos uma idéia de quem seja o responsável”, afirmou Bush. Tanto a CIA como o governo peruano apontam o grupo maoísta Sendero Luminoso como o responsável pelo atentado. Desde 1997, quando explodiu um carro-bomba, a organização rebelde, famosa por sua onda de ataques sangrentos que matou milhares de pessoas entre os anos 70 e 80, não realizava um ataque. Considerado o mais truculento grupo terrorista da América Latina, o Sendero chegou a ter dez mil militantes. Mas a organização foi praticamente dizimada pela violenta repressão do governo Alberto Fujimori, que em 1992 prendeu seu fundador, Abimael Guzmán,
o camarada Gonzalo. Outro grupo, o Movimento Revolucionário Tupác Amaru, está praticamente fora de combate desde 1997, quando
o Exército eliminou um comando que havia invadido a Embaixada
do Japão em Lima.

Ao saber dos ataques, o presidente Toledo, que estava na Conferência da ONU sobre Financiamento do Desenvolvimento, em Monterrey, no México, apressou-se em voltar para reforçar o esquema de segurança. Durante a visita de Bush no Peru, nenhuma aeronave poderá cruzar os céus deste país andino, sob ameaça de ser derrubada. Além disso, várias zonas de Lima estarão sob virtual cerco militar.

Entre os temas que Bush estará discutindo com os presidentes latino-americanos estão táticas de contraterrorismo, como parte do programa iniciado depois de 11 de setembro. O presidente peruano tem todo o interesse em mostrar um bom serviço. Afinal, Bush prometeu dobrar os investimentos americanos – de US$ 10 bilhões para US$ 20 bilhões – nos próximos três anos. Desde que os países interessados não estejam envolvidos em corrupção e, é óbvio, entrem na cruzada da Casa Branca contra o terrorismo.


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