O discurso do ex-presidente José Sarney, depois de adiado um par de vezes, finalmente aconteceu na quarta-feira 20, no plenário do Senado, em Brasília. E não se pode dizer que a montanha pariu um rato. Se, para explicar a dinheirama encontrada na empresa da filha, a retórica do senador não foi suficiente, o mesmo não se pode dizer da eficiência de Sarney ao manobrar, mirar e atingir os flancos do atual inimigo, Fernando Henrique Cardoso, e sua tropa. O pai de Roseana avançou contra o ministro da Justiça, o chefe dos policiais federais que ousaram invadir seu território. Acusou Aloysio Nunes Ferreira de ser homem afeito à teoria de que os fins justificam os meios e adepto da violência. Atribuiu a José Serra, como ministro da Saúde, mais competência às “coisas da espionagem” do que ao tratamento das epidemias.

Sarney não poupou o presidente da República. Foi cruel ao questionar a lisura das eleições e sugerir observadores internacionais para fiscalizar as urnas no dia 15 de outubro. Foi o mesmo que comparar FHC – que tem como um de seus maiores orgulhos a aisance com que trafega pelas sedes de governo além-fronteiras – a um Abdu Diúf, o presidente derrotado nas últimas eleições do Senegal, devidamente monitoradas por enviados das Nações Unidas. Sarney, aliás, citou em seu discurso de uma hora e 15 minutos outro país africano, o Zimbábue, e seu presidente, Roberto Mugabe, cujas eleições estão sendo contestadas pela União Européia.

Como saldo da refrega, só a certeza de que a guerra não terminou e muita bala ainda vai ser gasta de ambos os lados deste campo de batalha.