As belas mulheres contratadas para os comerciais da Kaiser acabam de ganhar uma aliada
de peso para ajudar a perturbar
a AmBev – leia-se Skol, Brahma
e Antarctica –, líder absoluta
do mercado de cervejas no País:
a Molson, maior cervejaria
do Canadá. Com a compra da
Kaiser na segunda-feira 18, por
US$ 765 milhões, a companhia,
que já havia arrematado em 2000
a marca Bavaria da própria
AmBev, transformou-se na
segunda maior empresa do setor, com 13 fábricas e uma fatia de 17,8% do mercado.

Para quem detinha apenas 3,1% de participação com a Bavaria, foi um salto olímpico. Tão bom que os holandeses da Heineken, mesmo atropelados na negociação pela Molson (eles vinham negociando a compra há dois anos), colocaram mais US$ 220 milhões na nova operação para ampliar de 14,2% para 20% a cota que já tinham na Kaiser. A meta, agora, segundo o superintendente da Kaiser, Augusto César Parada, é buscar sinergia entre as fábricas das duas marcas, integrando suas administrações. Na prática, todas poderão produzir as duas marcas. A estratégia passa por uma revisão na regionalização dos produtos. Ou seja: não adianta apostar na Kaiser na região que prefere a Bavaria. As mudanças têm um objetivo ambicioso: desbancar a Brahma da segunda posição do ranking e ameaçar a líder Skol, que tem 32% do mercado.

Na complexa engenharia financeira que começou a ser montada no final do ano passado, os antigos donos da Kaiser – Heineken, pequenos engarrafadores e distribuidores da Coca-Cola e a própria Coca-Cola Inc. – tornam-se acionistas da Molson Inc., com 6,1% das ações e participação no conselho de administração da companhia. Em valores, as ações correspondem a US$ 150 milhões. Para chegar ao total de US$ 765 milhões, os canadenses colocaram mais US$ 190 milhões em dinheiro e US$ 205 milhões para pagamento de dívidas, além dos US$ 220 milhões da Heineken. O acordo garante a distribuição por 20 anos das marcas Bavaria, Heineken e Kaiser pela rede de um milhão de pontos-de-venda da Coca-Cola, um trunfo para os canadenses.

A nova Kaiser/Molson, na avaliação de analistas do mercado, injeta adrenalina no setor e pode contribuir para uma redução no preço das cervejas no País. “O negócio nos faz um competidor forte e cria um mercado de cervejas mais competitivo no Brasil”, disse o presidente da Molson, Dan O’Neil. A marca brasileira também será levada para o Canadá, mas, de acordo com ele, sem as modelos dos comerciais de tevê. “Somos mais conservadores.” O executivo canadense acha que o mercado brasileiro, que em 2001 faturou R$ 12 bilhões, tem sede e sol de sobra para crescer 6,9% ao ano até 2007 e tirar a Alemanha do terceiro lugar no ranking de produção.

Na sede da AmBev, em São Paulo, silêncio total dos executivos, seguindo a determinação do comando maior. A AmBev teve um lucro recorde de R$ 785 milhões. Se depender do fôlego dos canadenses, 2002 não será tão confortável assim.