Desde os tempos de I love Lucy seriados de tevê são uma fórmula vencedora. Herdeiros das radionovelas dos anos 40, esses programas se tornaram a alma e a principal fonte de lucro das emissoras americanas. No Brasil, cativam uma legião de fãs – especialmente os aficionados pelo canal Sony, apelidados de sonymaníacos. Isso porque, diferentemente das novelas, não escravizam o espectador com tramas intermináveis. Histórias com começo, meio e fim, elas estão mais para fast-food cultural. O segredo está na força do texto e dos personagens, interessantes a ponto de deixar o espectador muito contrariado quando suas séries preferidas perdem lugar na programação. Só este mês, saem pelo menos quatro: Misterious ways, What about Joan, Men, women and dogs e Felicity. No lugar delas, a partir de abril estarão disputando a preferência do público According to Jim, filme sobre as confusões de um pai bonachão, The 80’s show, com os embates entre um músico e seu pai capitalista, e Law & Order Criminal Intent, um drama policial que traz o ponto de vista do criminoso. Há ainda outras duas a serem definidas até o final do mês. A razão da troca é uma só: queda de audiência. Mesmo o festejado Felicity, que foi por dois anos uma das produções mais populares dos Estados Unidos caiu. O programa empacou nos 3,3 milhões de espectadores. Fã do seriado, a radialista paulistana Rita Palermi, 28 anos, diz que o cancelamento da atração cria um verdadeiro buraco em sua agenda. Desde que Felicity estreou, ela não marca compromissos para as noites de segunda-feira. “Meu namorado nem pensava em me chamar para sair: ele sabia que essa era a minha noite Felicity”, lamenta ela. Mas Rita poderá contar ainda com algum consolo. Há a possibilidade de Felicity voltar em julho, com alguns episódios.

Prestígio – Estar numa série de tevê é o sonho da maioria dos atores americanos. Além dos polpudos salários, esse tipo de produção traz prestígio. Os campeões de audiência são exibidos em redes de televisão aberta, como a ABC e a NBC. Um único episódio de Friends, por exemplo, é visto por até 25 milhões de espectadores, o que credencia seus atores a receber US$ 1 milhão por semana. Mas, apesar de todo canal lançar até dez novas séries a cada temporada no mercado americano, apenas cinco sobrevivem ao primeiro ano. O ator James Belushi diz que lá é mais difícil fazer sucesso na tevê do que no cinema. Vindo de uma vitoriosa carreira na telona, com filmes como A pequena loja dos horrores, ele é a estrela do novo According to Jim, que mostra as confusões de um pai bonachão e sua família. “A cada semana, tenho de atrair 20 milhões de espectadores, senão estou fora. É mais do que conseguem muitos filmes de Hollywood”, compara.

Aqui, a maioria dos sitcom (comédias de situação) só passa na tevê por assinatura. Entre os cerca de 40 milhões de domicílios com televisão, apenas 3,5 milhões possuem tevê a cabo (Net/TVA) ou via satélite (Sky/DirecTV). No Ibope medido no Rio e em São Paulo em janeiro deste ano, cada episódio de Friends teve em média 60,7 mil espectadores. Dawson’s Creek cativou 71,6 mil, e Charmed, 61,5 mil. Os números podem não impressionar, mas não impedem o sucesso das séries. Todas de temática jovem. Friends conta as confusões de jovens nova-iorquinos que morrem de medo de chegar aos 30 anos, Charmed trata das peripécias de três belas bruxas e Dawson’s narra os dramas de uma turma interiorana preocupada com a primeira transa e a ida à universidade. Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, onde as séries atraem pessoas de 30 a 60 anos, no Brasil elas seduzem mais os jovens. “Eles não têm tempo ou paciência para ver novela”, afirma Fernanda Furquim, autora do livro Sitcom: definição e história.

Magia – Charmed, por exemplo, conquistou a atriz Mônica Dranger, 22 anos. Fascinada, ela tatuou no pé uma mandala que simboliza o poder das feiticeirinhas. “A vida anda muito estressante e eu quis trazer para a minha um pouco dessa magia”, conta. Sua irmã, Júlia, de 20 anos, é fã ardorosa do adolescente Dawson’s Creek. Ela pagou
R$ 1 mil por um convite para almoçar com as estrelas da série num evento promovido em São Paulo há dois anos. “Foi um leilão virtual. Excedi no lance, mas valeu a pena”, conta. Júlia criou um site sobre Dawson’s e pretende ir para Wilmington,
na Carolina do Norte, onde a série é filmada. “Vou chegar de surpresa e ver no que dá”, diz. A julgar pelo que acontece nos estúdios de Los Angeles, Júlia encontrará dificuldades para ver seus ídolos. Na gravação de cada episódio, que leva pelo menos cinco dias para ser feito e consome de US$ 1 milhão a US$ 10 milhões, um batalhão de seguranças sempre está a postos, porque nada pode dar errado.