O pernambucano Lenine chega ao seu terceiro disco solo, Falange Canibal, celebrando os primeiros anos de carreira, quando cantou Prova de fogo num festival televisivo no início dos anos 80. À época, ele frequentava os Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro, ao lado dos músicos Bráulio Tavares, Dudu Falcão e Lula Queiroga, turma que se auto-denominava… Falange Canibal. Mas as semelhanças acabam aí. Em duas décadas, Lenine sofreu dois desvios de percurso, fundamentais para a definição de seu estilo. O primeiro foi a adoção da percussão sofisticada no disco Olho de peixe, de 1993, feito em parceria com o percussionista Marco Suzano, trabalho considerado cult e que finalizou um encontro artístico raro. Dizem que os dois nem sequer se falam hoje em dia. O segundo é a paixão pelos recursos eletrônicos, desenvolvida a partir da faixa de abertura de seu primeiro CD solo O dia em que faremos contato, lançado em 1997, no qual ouvem-se os ruídos característicos de um computador sendo conectado na internet. Em 1999, Lenine lançou o ótimo Na pressão. Com este trabalho não só ficou mais conhecido do grande público como ampliou seu universo artístico fazendo a direção musical do espetáculo Cambaio, de Chico Buarque de Hollanda e Edu Lobo.

Falange Canibal, de certa forma, segue a linha tecno-xaxado de seus
dois discos anteriores acrescentando toques do que poderia se chamar de eletro-bossa. É um mix preparado no seu estúdio carioca e finalizado em outros lugares. Conta com a participação de velhos e novos amigos. Para as letras, cercou-se dos parceiros habituais, Queiroga, Tavares, Falcão, Ivan Santos, Sérgio Natureza e Paulo César Pinheiro. Em Carlos Rennó, encontrou uma forma de aproximar-se do linguajar da periferia
de São Paulo, como se ouve em Ecos do ão e Quadro-negro. Apoiado
na produção de Tom Capone e Mauro Manzoli, o músico usou e abusou
de samplers, trouxe para o estúdio os mineiros do Skank, os americanos do Living Color, o cubano Yerbabuena, a americana Ani Di Franco e
o brasileiro Eumir Deodato, para citar alguns, e fez uma festa bem peculiar. Lenine está cada vez melhor. Só faltou mesmo a companhia
de Marcos Suzano e ter mais uma vez em seu disco a marca registrada do melhor pandeiro.