O País descobriu o voyeurismo latente dos chamados reality shows e, de acordo com os altos índices do Ibope, parece não querer mais abandonar o buraco da fechadura. Mesmo que
o assistido seja de um vazio constrangedor, quando não um festival dos mais baixos instintos. Não bastasse estar no ar os insuportáveis Big Brother Brasil e Casa dos artistas, a Rede Globo e o SBT preparam um lote sem igual de filhotes do gênero, com formatos importados. Até a caçula Rede TV! quer aventurar-se no mesmo terreno, que vem se anunciando como a nova pedra filosofal da televisão. A faca é de dois gumes. De tão iguais, é bem provável que muito em breve o espectador não saiba mais em qual canal está sintonizado. Produções idênticas em emissoras diferentes vêm sendo produzidas, fazendo com que o lixo televisivo permeie em vários horários. Eugênio Bucci, colunista de televisão do Jornal do Brasil e da Folha de S. Paulo, atesta. “Daqui a pouco vamos ter mais personagens de reality show que nomes na lista telefônica. É a banalização da banalidade.” Marcos Amazonas, presidente da Connect, empresa prestadora de consultoria para várias redes, também é enfático. “As emissoras não buscam uma identidade. Então, cada uma copia a outra, deixando tudo pasteurizado.” Segundo Amazonas, quanto mais a Globo abandona seu decantado e hoje questionado padrão de qualidade, mais fácil fica para as outras copiá-la.

Não por acaso, adquiriu os direitos para 400 formatos de programas da holandesa Endemol, entre games e reality shows. Além do barulhento Big Brother, logo pretende colocar no ar outros produtos. O próximo ainda navega em águas turvas, enfrentando problemas técnicos e as dificuldades de se adequar ao horário vespertino dos sábados. Amor a bordo, quadro que até maio deve estrear no Caldeirão do Huck, está em produção há um mês. Trata-se de uma réplica do Love boat, uma das tantas fórmulas de reality show criadas pela Endemol. Se conseguir singrar pelos mares, o iate Casa Blanca de 140 pés, antigo caça-minas usado na Segunda Guerra, vai rebocar 14 solteiros – sete homens e sete mulheres – por praias paradisíacas. Para escolhê-los, a produção do quadro frequentou lugares badalados em várias capitais brasileiras. O objetivo será estimular enlaces amorosos, apenas com o cuidado para que ninguém avance o sinal.

A Globo já divulgou a lista de participantes só com seus primeiros nomes e o perfil deles, indicando suas preferências em relação ao sexo oposto. Há mulheres que gostam de homens “altos e fortinhos”. Outras preferem os “bons de papo”, ingrediente difícil nestes programas cujos participantes costumam divagar sobre o nada e atropelar o vernáculo. O SBT corre na disputa para lançar seus novos reality shows como o Coiote persegue o Papaléguas. Depois que sua Casa dos artistas se transformou numa confusão, com mudanças de regras e baixarias, Silvio Santos embarca em outros navios. Engatou uma parceria com a Fox Film, numa operação que transita pelos US$ 4 milhões, para juntas produzirem um arremedo da Temptation island, um dos hits do canal americano, que já rendeu bons frutos nos Estados Unidos – onde está na sua segunda versão –, na Inglaterra, em Portugal e na Argentina. O Primeiro Mundo também adora um lixo televisivo. Para colocar a missão nos trilhos, SS contratou duas produtoras tupiniquins, a Total Filmes e a Promo Filmes,
e chamou Babi, no momento ociosa no SBT, para apresentar a atração.


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