Há mais de dois anos, o ex-general paraguaio Lino Oviedo, 58 anos, é um fugitivo da Justiça de seu país. Acusado de ser um dos mentores do assassinato do vice Luís María Carlos Argaña, ele chegou ao Brasil no final de 2000, depois que seu amigo, o ex-presidente da Argentina Carlos Menem, deixou o poder. No Brasil, o ex-homem-forte do Paraguai ficou preso de junho a dezembro de 2001, quando o STF recusou o pedido de extradição feito pelo governo paraguaio e ele obteve asilo. Desde então, o ex-general prepara sua volta para candidatar-se à Presidência. Na casa de um parente em Brasília, depois de prestar depoimento no Ministério da Justiça, Oviedo confirmou a ISTOÉ que vem se reunindo com seus partidários em cidades brasileiras, como Maringá, Ponta Porã e Foz de Iguaçu.

ISTOÉ – O Ministério da Justiça tem vídeos mostrando o sr. e seus correligionários em reuniões no Brasil. O sr. está por trás dos protestos no Paraguai?
Oviedo –
Não. Nunca fiz apologia do delito. Mas o que aconteceu em Ponta Porã não foi um comício, e sim uma reunião. O governo brasileiro sempre soube que eu me reunia com meus companheiros. Como poderia realizar reuniões com mil pessoas, alugar um ginásio, sem que as autoridades tivessem conhecimento?

ISTOÉ – O que o sr. faz no Brasil?
Oviedo –
Estou vendo o melhor que o Brasil tem para oferecer na agricultura, na pecuária e na agroindústria, e o que pode ser aplicado no Paraguai. O Brasil é um bom parceiro e o maior comprador de produtos agrícolas do Paraguai. Um quarto dos fazendeiros paraguaios são brasileiros.

ISTOÉ – O sr. é capaz de estabilizar o Paraguai?
Oviedo –
A democracia se retoma educando e qualificando o povo. Aprendi isso aqui no Brasil. No Paraguai, 36% da população é analfabeta e outros 30%, semi-analfabeta. Gente que não sabe seus direitos, usados como animais. São escravos que morrem de sífilis, raquitismo, tuberculose, fome e até de verminose. Há 500 mil crianças que nasceram aleijadas por problemas de parto. As mulheres dão à luz no pasto, como se fossem vacas. No Paraguai, os que são contra a corrupção e a violência me apóiam.

ISTOÉ – O sr. não teme ser preso ao voltar?
Oviedo –
Ser preso não me incomoda. Já estive preso no Paraguai mais de um ano, outros seis meses no Brasil e um ano como asilado político na Argentina. Tenho que provar que o julgamento feito pelo tribunal militar foi ilegal.