Quinhentos e dez anos depois que os reis católicos espanhóis Fernando e Isabel conquistaram Granada, o último reduto do reino árabe-muçulmano da Península Ibérica, o governo de Madri invadiu na quarta-feira 17 a ilhota de Perejil (salsinha), nas proximidades do estreito de Gibraltar. Disputada por Espanha e Marrocos, com 13,5 hectares, a 200 metros do continente africano e habitada esporadicamente por cabras, a ilha fora ocupada havia uma semana por 12 militares marroquinos, que hastearam a bandeira do Marrocos naquele lugar rochoso que seus conterrâneos preferem chamar de Leila. Para reconquistá-la, o premiê espanhol, José María Aznar, despachou um contingente de 28 soldados de elite fortemente armados, transportados em cinco helicópteros e apoiados por três navios de guerra e uma lancha-patrulha. Não houve um só tiro.

Muitos analistas compararam a ação de Aznar à da ex-primeira-ministra britânica, a também conservadora Margaret Thatcher. Em 1982, a
“dama-de-ferro” enviou uma força-tarefa para reocupar as ilhas
Malvinas – perdão, Falklands –, no Atlântico Sul, invadidas pela fanfarrona ditadura militar que então reinava na Argentina. Aquela guerra provocou patéticos alinhamentos da esquerda latino-americana com os gorilas da Casa Rosada e uma sardônica comparação do escritor Jorge Luis Borges: “Dois carecas lutando por um pente”, mas acabou levando ao fim da ditadura. Já a ação da Espanha, na aparência mais farsesca, encobre uma realidade dramática: o crescente ressentimento dos europeus com os imigrantes, principalmente os muçulmanos e provenientes dos países africanos.