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TEMOR
Com exceção dos senadores Álvaro Dias (ao centro) e Pedro Taques (à dir.),
parlamentares tentam impedir ida de Pagot à CPI

As revelações feitas à ISTOÉ pelo consultor Luiz Antônio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), caíram como uma bomba na CPI do Cachoeira. Na ausência do presidente da comissão, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que estava de licença médica, integrantes do PSDB, do PT e da base aliada passaram a articular uma grande operação abafa para evitar a convocação de Pagot. A estratégia negociada é classificar as denúncias feitas pelo ex-dirigente de alheias ao objeto da investigação no Congresso, como sintetizou o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). “Os casos citados por ele não têm relação com a comissão”, disse. Para ganhar tempo, o também petista Paulo Teixeira (SP), que assumiu interinamente os trabalhos da CPI no lugar de Vital, alegou que caberia apenas ao “presidente efetivo” decidir sobre a convocação. Nesta semana, Vital deve reassumir o comando da comissão e precisará decidir na reunião administrativa se desengavetará algum dos 20 requerimentos de convocação de Pagot que estão parados na CPI.

Por trás da operação abafa está o temor de que venham à tona detalhes nada agradáveis dos esquemas de financiamento irregular de campanhas políticas de diferentes legendas, com o envolvimento de várias empreiteiras, além da construtora Delta, já investigada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público no âmbito das operações Vegas, Monte Carlo e Saint Michel. Diante das chances reduzidas de que Pagot seja chamado pela CPI, o senador Pedro Taques (PDT-MT) recorreu à Procuradoria da República do Distrito Federal, na qual protocolou uma representação para que o caso seja apurado e o ex-diretor do DNIT seja ouvido pelos procuradores. Segundo Taques, as investigações realizadas pela PF e os trabalhos da CPMI no Congresso revelaram “uma profunda conexão” entre as obras tocadas pelo DNIT, a construtora Delta e o grupo de Carlinhos Cachoeira. “À ISTOÉ, Pagot afirmou que tanto o PSDB quanto o PT utilizaram-se do governo e do DNIT para fins eleitorais”, afirma Taques, no documento.

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"Sou alvo de pressões insuportáveis de Brasília"
Luiz Antônio Pagot

Taques, que é procurador licenciado, avalia que as revelações feitas por Pagot até agora sugerem indícios de prática de ao menos cinco crimes. Dentre eles, formação de quadrilha para lesar o Erário, malversação de recursos federais, além de eventual superfaturamento de obras e celebração de aditivos com o objetivo de abastecer o caixa de empresas que contribuem para campanhas políticas. O ex-diretor do DNIT disse que o PSDB desviou recursos da obra do Rodoanel, em São Paulo, para o caixa 2 da campanha presidencial de José Serra. E o PT, segundo Pagot, buscou doações junto a empreiteiras por intermédio do DNIT, a pedido do ex-tesoureiro de campanha do partido, deputado José De Filippi.

Desde a publicação das revelações do ex-diretor do DNIT, na última edição de ISTOÉ, Pagot está incomunicável em visitas técnicas pela região Norte do País. A amigos, relatou “pressões insuportáveis” oriundas de Brasília e ameaças contra a empresa de navegação para a qual está trabalhando como consultor. Durante a semana, tanto tucanos como petistas tentaram desqualificar as denúncias de Pagot. Para o ex-presidente Lula, as declarações de Pagot “não dizem nada”. O ex-governador José Serra (PSDB-SP), pré-candidato à Prefeitura paulista, também rechaçou as denúncias. “É um absurdo completo”, disse. O governador Geraldo Alckmin afirmou que o PSDB estuda medidas judiciais contra Pagot. No ninho tucano, a única voz dissonante foi a do líder do partido Álvaro Dias (PR). Para ele, o ex-diretor do DNIT é uma testemunha importante e deveria ser ouvida pela CPI. “As últimas declarações reforçam a necessidade de ele comparecer como testemunha”, ponderou.

Na expectativa da aprovação do requerimento de convocação de Pagot, a pressão na CPI vai subir ainda mais esta semana com os depoimentos dos governadores de Goiás, o tucano Marconi Perillo, e do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz. Eles correm o risco de ter seus sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados pela comissão. Na semana passada, o empresário Walter Paulo Santiago complicou a vida de Perillo ao apresentar uma quarta versão para a venda da mansão do ex-governador.

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