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FALTA DE OPÇÃO
Mohammed Morsy (à esq.) e Ahmed Shafiq (abaixo) durante campanha para o segundo turno:
o embate entre o conservadorismo islâmico e o antigo regime será decidido nas urnas

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A condenação à prisão perpétua de Hosni Mubarak, no sábado 2, pode ser vista como a consagração da Primavera Árabe, movimento pró-liberdade que tomou as ruas do Egito no ano passado. Mas, embora tenha sido sucedida por eleições, a derrocada da ditadura não resultou no esperado fortalecimento da democracia no país. Pior: a Primavera Árabe tampouco significou, como desejava o mundo ocidental, uma alternativa de poder capaz de negar o passado sombrio do país que durante 30 anos se submeteu a Mubarak. Os manifestantes falharam na sua capacidade de se organizar politicamente e nem sequer foram capazes de produzir uma liderança diferente de tudo o que o Egito já conhecia. Após um primeiro turno com 13 candidatos – a maioria deles desarticulados e sem representação suficiente para se tornarem viáveis –, os egípcios levaram ao segundo turno um candidato dos militares, de antigos laços com o próprio Mubarak, e outro dos islâmicos, que traz as ideias conservadoras de sempre. Será o fim da Primavera Árabe?

Nos próximos dias 16 e 17, os egípcios escolherão seu primeiro presidente entre o líder da Irmandade Muçulmana, Mohammed Morsy, e o antigo premiê de Mubarak, Ahmed Shafiq. “Infelizmente não há nenhuma boa opção”, afirma Eric Trager, especialista em Egito do The Washington Institute. O pessimismo atual se justifica pelo que cada postulante ao cargo representa. A Irmandade Muçulmana de Morsy é a instituição política mais organizada do país e dona da maioria das cadeiras no Parlamento. Sua vitória à Presidência concentraria o poder nas mãos dos islâmicos. Além do conservadorismo nos costumes, principalmente em relação às mulheres, aumentaria o temor de um distanciamento nas relações com Estados Unidos e Israel. A eleição de Shafiq, em contrapartida, frustraria de vez as expectativas de transformação e reverteria o fim decretado da era Mubarak. Shafiq não só era um aliado próximo do ex-presidente como também faz parte das Forças Armadas. O Exército é hoje quem toma conta do país e, estima-se, controla 40% da economia.

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Os eleitores apontam dois elementos como fundamentais para a escolha: segurança e economia. A onda de violência dos últimos 16 meses, acompanhada pela escassez de combustível, favorece o militar Shafiq, que fala em restaurar a ordem. Na avaliação de Hani Sabra, analista da consultoria de risco político Eurásia,“a percepção de que o crime aumentou existe, mas não é verdadeira”. Ainda assim, a imagem de caos prejudica a atração de turistas, fonte importante de renda para a economia (a receita do setor recuou um terço no ano passado). Para completar o cenário, os jovens, propulsores da Primavera, perderam o entusiasmo com as eleições. Se no primeiro turno a taxa de comparecimento dos eleitores foi considerada baixa (41,2%), os especialistas esperam que apenas 20% da população vote no segundo turno – a expectativa anterior estava entre 80% e 90%. Apesar da polarização da disputa, o futuro presidente será eleito sem saber o alcance e os limites de seus poderes, uma vez que a Constituição egípcia ainda está para ser elaborada. “Revoluções passam por altos e baixos, e esse não é o fim da revolução egípcia”, disse à ISTOÉ Said Sadek, professor de sociologia política da Universidade Americana do Cairo. “Maturidade política leva tempo.”

 

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