VISTA BELA João Pedro, sete anos, velejou por quatro horas e encantou-se com os golfinhos

Para provocar seus vizinhos do outro lado da Baía de Guanabara, o carioca adora dizer que o melhor de Niterói é a vista para o Rio de Janeiro. A cada verão, no entanto, aumenta o número de moradores e turistas que recorrem a outro ponto de observação, em campo neutro, para admirar as duas privilegiadas cidades: o alto-mar. Empresas de turismo náutico instaladas na Marina da Glória, centro do Rio, estimam que a procura por passeios em botes, escunas, saveiros, lanchas, iates e veleiros aumentou entre 30% e 50% neste verão. Os dois principais destinos são as Ilhas Cagarras, em frente à orla da zona sul, e as praias de Niterói. Os belos passeios são a melhor alternativa para driblar o calor de quase 40 graus longe das praias lotadas e dos ruídos urbanos.

Assim como na Lapa, onde a iniciativa privada criou um dos maiores centros de diversão noturna do País sem qualquer empurrão do poder público, o empreendedorismo no setor náutico no Rio tem vencido o descaso oficial e atraído cariocas e turistas. A Secretaria Estadual de Turismo não tem nenhuma estatística sobre o setor. A falta de apoio e a morosidade na despoluição da baía são obstáculos maiores do que as chuvas e o mar revolto que, vez por outra, cancelam os passeios.

“É inacreditável como uma cidade com tanto litoral e tanta beleza não investe pesadamente no turismo náutico. Temos tudo para arrebentar e há menos barcos aqui do que em Buenos Aires”, compara Marcelo Quintela, 44 anos, condutor do veleiro de 32 pés da escola de vela C&L. Ele só pára de praguejar contra os políticos para sorrir da pergunta do brasiliense João Pedro, sete anos, de olho no instrumento digital que aponta uma profundidade de 17 metros: “Moço, esse colete agüenta um mar tão fundo?”

Depois de quatro horas velejando, João Pedro e a irmã Nohana, dez anos, desembarcam extasiados com o mergulho, o balanço das ondas e um grupo de golfinhos em frente à praia de Copacabana. “Só enjoei um pouquinho na cabine. Foi tudo lindo. Agora, quero ir à praia”, reivindica Nohana.

FOTOS: ALEXANDRE SANT’ANNA/AG. ISTOÉ

DIVERSÃO Os passeios ao redor das praias prevêem parada para mergulho

Santuário de pássaros, as Cagarras são quatro ilhas localizadas a cerca de 3,5 quilômetros do continente. É o passeio preferido dos cariocas, até pela atração que sempre exerceu sobre os freqüentadores das praias de Ipanema e do Leblon. O veleiro demora uma hora no percurso. À sensação de aventura se soma o privilégio de observar a cidade, sem poluição ou medo da violência. Os pontos mais vistosos são os 396 metros da pedra do Pão de Açúcar saindo das águas, o Corcovado com o Cristo Redentor, Copacabana, Ipanema e tesouros arquitetônicos, como o Outeiro da Glória e o Copacabana Palace. Também se avista a irrefutável prova de desorganização urbana do Rio: as favelas avançando sobre os cartões-postais mais conhecidos do País. Morro Azul, Prazeres, Chapéu Mangueira, Cantagalo, Pavão-Pavãozinho, Cabritos, Chácara do Céu, Vidigal e muitas, muitas outras.

De pequenos veleiros para duas pessoas a iates para centenas, é grande a variação de embarcações. A Macuco, mais conhecida pelos botes que se aventuram sob as Cataratas do Iguaçu, no Paraná, chegou ao Rio de Janeiro há dois anos com um bote e já comprou outros dois, cada um para 25 pessoas. Os passeios, com parada para mergulho, levam duas horas e custam R$ 100, com desconto de 30% para moradores. “Estamos levando pelo menos 50 pessoas por dia. O verão está bombando”, comemora a gerente, Márcia Marynowski.

Prova de que o negócio vai de vento em popa é a entrada do megaempresário Eike Batista. Ele comprou o iate Pink Fleet, para 450 pessoas, e lançou um pacote de happy hour, passeio noturno e jantar. Enquanto o público saboreia pratos e música ao vivo, a embarcação atravessa a baía em direção ao Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói, e retorna para os prédios históricos do centro do Rio. O passeio, a R$ 150, lembra as barcas turísticas que deslizam no rio Sena, em Paris. Era o toque de glamour que faltava às sofridas águas da Baía de Guanabara.