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O governador de Goiás, Marconi Perillo

Suspeito de ter sido laranja na compra de uma casa de luxo de propriedade do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o empresário Walter Paulo Santiago afirmou ser o verdadeiro comprador da mansão, mas não conseguiu explicar como conseguiu o dinheiro para pagá-la. Ele negou ter usado cheques na negociação e garantiu ter pago os R$ 1,4 milhão em cédulas de R$ 50 e R$ 100 para Wladimir Garcez e Lucio Fiuza, que intermediaram a compra.

"Nota é coisa à toa. Uma caixinha desse tamanho leva um milhão", disse Santiago aos integrantes da CPI mista que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira. "Se (o governador) recebeu em cheques, não foi dado por mim", alegou. Perillo afirma que recebeu três cheques, dois de R$ 500 mil e um de R$ 400 mil.

Santiago ainda disse que é administrador da empresa Mestra Empreendimentos, que tem capital social de R$ 20 mil, e que adquiriu o imóvel em nome da empresa. "Capital social que é 20 mil, mas negócio faz milhões", disse ele quando questionado da contradição. A testemunha arrancou gargalhadas dos parlamentares que estavam na sessão. Foi nesta casa que a polícia prendeu Carlinhos Cachoeira. Walter Santiago, no entanto, negou ser sócio do bicheiro em quaisquer negócios ou ter proximidade com Perillo. "Minha relação com o senhor governador nunca foi de intimidade. Tivemos residência no mesmo condômino, mas nunca frequentamos a casa um do outro."

Wladimir Garcez, ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia e acusado de integrar a quadrilha de Cachoeira, admitiu ter oferecido o imóvel ao governador goiano. Walter disse que pagou em dinheiro a Garcez, e ele poderia ter pago ao governador com cheques de Leonardo Almeida Ramos, sobrinho de Cachoeira.

Carlinhos Cachoeira 

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.