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Após décadas de invasões, ocupações e guerras, Líbano e Israel travam uma nova batalha. Dessa vez, no entanto, o motivo da peleja está na cozinha. O presidente da Associação das Indústrias do Líbano, Fadi Abboud, acusa Israel de se apropriar de 25 pratos que fazem parte da culinária de seu país, como o faláfel, o homus e o babaghanouj, integrá-los à cozinha judaica e comercializá- los como se fossem seus. Para evitar isso, Abboud requer a propriedade intelectual desses pratos e está disposto a brigar juridicamente. “Não basta roubarem nossas terras, estão roubando nossa cozinha”, acusa. Israel não se manifestou.

Na prática, o dirigente quer garantir ao Líbano a exclusividade de uso dos nomes. O bolinho de grão-debico, por exemplo, só poderia chamar faláfel se feito em território libanês. Dessa forma, quem o comercializasse fora com esse nome, estaria sujeito a uma ação judicial por “falsa indicação de proveniência”. “Ele pretende fazer essa reserva para tornar os pratos mais nobres, estimular o comércio e proteger seus produtores”, explica o advogado especialista em propriedade intelectual José d’Affonseca Gusmão. Para isso, Abboud prepara documentação para requerer esse direito na Organização Mundial do Comércio. Sua maior dificuldade será provar a origem dos pratos – afinal, todas as iguarias são comuns à cultura árabe.

A iniciativa é polêmica. Proprietário do restaurante Sírio Libanês, no Rio de Janeiro, Jawad Ghavi está certo de que os israelenses aprenderam a comer faláfel e homus com os árabes.

“Os judeus que se mudaram da Europa para o Oriente Médio, por conta da criação de Israel, levaram uma culinária mais adocicada, diferente desses pratos”, diz. Olinda Isper, de origem libanesa e dona do Tenda do Nilo, em São Paulo, confirma que a discussão é antiga. “O tabule é libanês, o homus pode até ser, mas garanto que o faláfel não é”, afirma. Andréa Kauffman, chef do judaico AK Delicatessen, em São Paulo, acha natural Israel cozinhar esses pratos. “Somos da mesma terra e o que há em uma cultura aparece na outra”, diz. Uma discussão, no mínimo, saborosa.