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INTERAÇÃO
Na Mesa Musical é possível criar melodias sem o uso de instrumentos tradicionais

Foi-se o tempo em que museu significava um lugar austero, no qual apenas o olhar era privilegiado. Seguindo a tendência da nova safra de espaços culturais que usam a tecnologia para envolver todos os sentidos do visitante, o Centro de Referência da Música Carioca, situado na zona norte do Rio de Janeiro, só tem de antigo o seu prédio. Funcionando em um palacete do início do século passado, ele abriga a exposição de longa duração “Rio Música – Cinco Séculos de Música no Rio”, que usa instalações interativas para que o público tenha um conhecimento renovado de um acervo que contempla desde o cancioneiro indígena, cujo primeiro registro data de 1577, até o som produzido nos bailes e favelas cariocas nos dias de hoje. Melodias compostas na antiga capital do Brasil são desvendadas por meio de insta­lações com teclas virtuais e vídeos expositivos. “Para a mostra ser interessante, em especial aos mais jovens que lidam com a tecnologia desde cedo, é preciso dar a sensação de que estamos construindo juntos, criando música e experiências”, diz Rosana Lanzelotte, curadora da exposição. “Nós preferimos chamá-lo de museu de experiência porque o visitante experimenta e interpreta o conceito”, diz Larissa Graça, gerente de projetos da Fundação Roberto Marinho, responsável pelos museus da Língua Portuguesa e do Futebol, em São Paulo, os primeiros a apostar nesse novo modelo cultural.

Nas salas do Palacete Garibaldi, restaurado nos anos 1990, o visitante inicia o tour ouvindo cantos e instrumentos indígenas. A improvável gravação de 400 anos é, na verdade, uma reprodução que foi adaptada pelo maestro Heitor Villa-Lobos de uma notação musical de canções da época colonial. Também merece atenção o piano cronológico, contribuição do músico Tim Rescala. Ele ressalta o significado de o Rio ser conhecido no século XIX como “Cidade dos Pianos”. “Em quase toda casa há um piano, que se vê ou que se ouve, ainda nas mais humildes, porque todo brasileiro tem gosto natural pela música”, lê-se numa citação de 1843 do viajante inglês Francis Castelnau.

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EVOLUÇÃO
O bloco “Instrumentália” exibe instrumentos
de épocas diversas

Rosana, a curadora da mostra “Rio Música”, é cravista, pesquisadora e doutora em informática – ou seja, a própria personificação bem-sucedida da conjugação entre arte e ciência. Ela dividiu a mostra em seis ambientes lúdicos em que se podem criar sons e melodias com as mãos e sem o uso de instrumentos tradicionais, caso da Mesa Musical, ou dedilhar a história pelas teclas de um piano. A curadora acrescenta que a tecnologia permite que a exposição seja uma obra passível de ser sempre atualizada e adaptada. Na mesma linha, a museóloga Denise Studart acredita que “a emoção, o interesse e a curiosidade do público são ganchos importantes para a aquisição de conhecimento”. A tecnologia funciona como aliada, em casos em que há muita informação digital e pouco acervo físico. O ponto de partida é o conteúdo e a sensação que o visitante terá. “Apostamos em mecânicas que não exijam manual de instruções. O público se diverte com o conteúdo e aprende naturalmente”, diz Liana Brazil, sócia da agência SuperUber de design interativo, uma das produtoras da exposição. Não tem manual, mas tem uma cartilha básica: um bom projeto precisa ser interessante e compreensível a todas as idades e a todos os níveis de informação, “sem ser chato para quem já está acostumado com a linguagem”, complementa Liana.

Alberto Saraiva, curador do Museu das Telecomunicações do Oi Futuro, no Rio, defende que a tecnologia é parte da mensagem. “As pessoas querem interagir com telas, sensores de presença, com o audiovisual. Então, trabalhamos a mensagem para que a tecnologia esteja a serviço do sentimento”, diz ele. Tal qual acontece na Europa e nos EUA, também no Brasil os museus começam a ser vistos como locais vibrantes e que podem oferecer experiências prazerosas e educativas. “Isso pode ter um efeito duradouro no indivíduo, contribuindo para mudanças de atitude”, diz Denise. Para essa geração de museus, que só no Rio vai dar à luz mais três espaços (Museu de Arte, Museu da Imagem e do Som e Museu do Amanhã), o desafio de ensinar pela experiência tem sido um gratificante aprendizado. E a boa receptividade do público é a confirmação de que a história pode ser a mesma, mas a forma de contá-la pode melhorar sempre.  

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