Pouca gente ficaria arrasada ao receber uma indenização de US$ 21 milhões para dizer adeus a seu emprego. Só que Carly Fiorina não tinha um cargo qualquer. Principal executiva da Hewlett-Packard (HP), ela foi eleita por quatro anos consecutivos a americana mais influente no mundo dos negócios pela revista Fortune. Aos 51 anos, Carly era ainda a única mulher a ocupar um posto de direção entre as 30 maiores companhias dos Estados Unidos. Por tudo isso, a elegante e carismática Carly era uma das mulheres mais poderosas do planeta, imprimindo sua marca na história recente da computação pessoal.

Sua mais grandiosa manobra foi também a razão de sua débâcle. Em 2002, sob seu comando, a HP assumiu o controle da rival Compaq, uma das líderes nas vendas de computadores pessoais e servidores. A transação – avaliada em US$ 19 bilhões – foi vista com desconfiança por parcela dos acionistas da companhia. Muitos jamais se convenceram da viabilidade de adquirir um gigante como a Compaq, numa das mais espetaculares aquisições do setor de informática de todos os tempos.

Na semana passada, depois de longo período de divergências, o conselho de administração da empresa ganhou, por fim, a queda-de-braço que travou com Carleton Sneed Fiorina. No fundo, os acionistas esperavam os dividendos da fusão HP-Compaq, que, segundo eles, Carly prometeu e não cumpriu. Para o azar da executiva, os últimos anos não foram dos melhores para a indústria de informática. Ainda assim, no ano passado a megacompanhia HP-Compaq faturou quase
US$ 80 bilhões, um salto perto dos US$ 42,2 bilhões no seu primeiro ano de administração, em 1999. Mas os lucros não acompanharam o mesmo ritmo do faturamento: de US$ 3,49 bilhões em 1999 para US$ 3,5 bilhões em 2004.

Fundada em 1939, a HP fez história com as calculadoras científicas. Mais tarde, a empresa virou sinônimo de impressora. Na compra da Compaq, a HP levou uma divisão de computadores pessoais que já não ia bem das pernas. Essa é uma das explicações para a reação positiva do mercado financeiro à saída da executiva. Na quarta-feira 9, quando Carly divulgou sua nota de despedida, as ações da HP-Compaq subiram 6,9% no final do pregão. Um sinal de que no mínimo a prioridade da empresa – e dos acionistas – são os lucros.