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Passava pouco das 18 horas da terça-feira 21 quando uma missa na Igreja de Santo Antônio, no bairro de Água Fria, no Recife, foi interrompida por dois oficiais de Justiça. Eles traziam um mandado de reintegração de posse da igreja, com a determinação de desocupação do local. Sem alternativa, o padre João Carlos Santana da Costa retirou-se do templo e pediu aos fiéis que voltassem para casa. O mais incrível é que essa ação de despejo foi movida pelo arcebispo de Recife e Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, conhecido por suas posições conservadoras e intransigência. Desde então, impedido de oficiar missas, o padre João realiza “grupos de orações” na praça, nas escolas e em casas de fiéis. A maioria deles se solidariza com o padre e a igreja chegou a ser pichada com slogans contra o arcebispo.
O motivo para ação tão drástica, segundo a arquidiocese, é que o padre João estaria namorando uma de suas fiéis e, por isso, teria sido expulso da paróquia há um ano por dom Sobrinho. Mas, segundo o arcebispo, o padre também seria culpado de um pecado ainda mais grave: em 1994, ele teria se unido à mesma amante para tramar a morte do marido dela. “O padre foi preso na Paraíba. Eu o aceitei por pura caridade”, diz o bispo. “Eu o acolhi porque ele se arrependeu. Passados alguns anos, a mulher se mudou para cá e eles passaram a viver juntos”, diz dom Sobrinho. Padre João conta outra história. O arcebispo o teria afastado depois de ele ter denunciado casos de pedofilia que supostamente ocorreriam numa igreja vizinha à sua. Indignado, dom Sobrinho teria montado um dossiê sobre o suposto romance de padre João, afastando-o de sua paróquia. “Eu não tive nenhum direito à defesa no afastamento da igreja. No caso do crime, eu já fui absolvido”, reclama o vigário.
A contenda se arrastou durante meses e a disputa bateu às portas do Vaticano, que decidiu em favor do arcebispo Sobrinho. “A Santa Sé não quer discutir o conteúdo da denúncia. Pior. Tenho que pagar 1.500 euros para que o Vaticano escolha um advogado para me defender. Eu não tenho como arrumar esse dinheiro”, reclama o padre João. “Não existe pecado sem perdão. Mas ele tem que parar com essa vadiagem”, diz dom Sobrinho.
Enquanto não se resolve a pendenga, os católicos de Água Fria não podem assistir às celebrações porque as portas da igreja continuam fechadas. “A igreja de dom José Sobrinho é trancada”, acusa o vigário. “Ela está fechada para o padre João exercer seu ministério sacerdotal, mas para outros não. Já nomeei outro vigário”, rebate o arcebispo.
Não é a primeira vez que o arcebispo Sobrinho provoca polêmica. Em 2004, Luciana Santos, prefeita de Olinda, do PCdoB, foi retirada da fila de comunhão do arcebispo porque “pertencia a um partido político ateu”.