A médica Havanir Nimtz, 51 anos, deixou o Prona e seu indefectível presidente, o doutor Enéas Carneiro. Mudou-se para o PSDB. Porém, dá um aviso aos que já estão achando que o horário eleitoral vai perder a graça. “Vou continuar falando forte. É a única forma que eu tenho para me comunicar com meus eleitores.” A deputada estadual mais votada da história do País, eleita em 2002 com quase 700 mil votos em São Paulo, avisa que a única mudança será a do número: em vez do 56, agora vestirá o 45 tucano. Nessa entrevista a ISTOÉ, a bela e vaidosa Havanir, que já fez lipoaspiração e implantou prótese de silicone, fala sobre a mudança de partido, a relação com o doutor Enéas e garante que não vai deixar de usar roupas na cor vermelha, sua marca pessoal. Mesmo que esta seja a cor do inimigo PT.

ISTOÉ – A pergunta que todos fazem. Agora no PSDB, a sra. continuará
com a fisionomia fechada e com o indefectível discurso intimidador,
com direito até a alguns gritos?
Havanir Nimtz
– Eu sou uma pessoa suave e dócil no momento certo (risos). Mas quando preciso defender os interesses do povo eu falo daquele jeito. E vou continuar falando assim: forte, forte! Eu queria passar firmeza, coragem, valentia. E o povo entendeu. O que eles mais querem é uma pessoa forte. Eles sabem que uma pessoa frágil não tem como defendê-los. Não é pecado sorrir, desde que haja motivo para isso. É um absurdo ver o povo morrendo nas ruas e o político sorrindo e prometendo aquilo que não vai fazer!

ISTOÉ – Mas esse não era um estilo criado pelo doutor Enéas, o presidente do Prona, o partido que acaba de deixar?
Havanir
– Isso não é um estilo! Se fosse, funcionaria para todos os candidatos do Prona que o seguiam. O doutor Enéas me ensinou, fazia os meus pronunciamentos. Sob sua orientação, resolvi soltar essa leoa que estava escondida, adormecida dentro de mim. Aquilo estava dentro de mim. Por isso não dá para imitaaar! (irritada) Não dá para convencer se você está apenas fazendo um tipo.

ISTOÉ – Durante a campanha à prefeitura a sra. protagonizou cenas raras
para um político e mais dignas de uma pop star. Na sua visão, a que se
deve essa popularidade?
Havanir
– As pessoas queriam chegar perto, receber um autógrafo, um beijo. Os jovens, principalmente. Eu ficava seis, sete horas em pé dando autógrafos. Eu já ouvi muita gente dizendo que não era o meu eleitor, mas, sim, meu fã. Mas é que eles acham inatingível estar ali perto de alguém saído da televisão. É aquela coisa do artista. Os professores de marketing perguntavam como eu atingia tamanho eleitorado. Na minha opinião, quebramos esse tabu de que o candidato que tem mais dinheiro é o que tem mais voto.

ISTOÉ – Ao lado do doutor Enéas, a sra. era o maior símbolo do Prona.
O que a fez sair da legenda?
Havanir
– Tenho uma história de 15 anos com o Prona. Fui criada politicamente no partido. Tudo o que sei devo ao doutor Enéas. Mas decidi alterar meu rumo político. Fui para um partido forte, estruturado. As oportunidades não passam duas vezes na vida. Vou citar aqui Heráclito de Éfeso, um grande filósofo grego. Ele disse: “As águas não passam duas vezes pelo mesmo lugar.” A associação com o Prona, claro, é forte e provavelmente vai continuar. Muita gente vai ligar a minha imagem com o número 56. Porém, agora sou 45.

ISTOÉ – Como o doutor Enéas recebeu sua decisão? A ruptura foi traumática?
Havanir
– De forma alguma. Houve consenso, tanto da minha parte como da dele. Acertamos que eu seguiria um rumo e ele outro. Ele me desejou boa sorte e eu desejo o melhor para ele. Tenho uma admiração muito grande pelo doutor Enéas. Devo minha carreira política a ele. Mas é o momento de seguir um outro destino.

ISTOÉ – Muitos de seus eleitores a viam como uma alternativa ao modelo
político tradicional. Não teme que eles a abandonem?
Havanir
– Há risco em tudo. Mas não tenho essa neurose para conseguir votos. Minha preocupação é continuar trabalhando para o povo. Muitas pessoas certamente irão estranhar, mas quem gosta e acredita nos meus ideais vai continuar comigo. Vou continuar sendo a mesma doutora Havanir – médica, mãe, mulher, cidadã, nordestina, evangélica e batalhadora. Para esses eleitores, só o meu número mudou.

ISTOÉ – Mas a sra. sempre foi uma crítica dos grandes partidos, o PSDB
inclusive. Essa troca não seria um tanto contraditória para uma política
que se orgulha de ser diferente da maioria?
Havanir
– As pessoas erram e têm direito também de consertar os seus erros. Eu posso ter batido no PSDB, no PT e no PP do Maluf. Mas, eu queria explicações para as dúvidas que eu tinha. Eu vim para o partido para ajudar e tentar mostrar o que penso. Mas se perceber que determinada atitude vai contra o meu ideal, não seguirei essa linha. Eu me afastarei. No entanto, o PSDB é um partido democrático, vai dar liberdade de nos expressarmos.

ISTOÉ – A sra. é reconhecidamente vaidosa. Já fez plásticas, implantou silicone, trocou de óculos e adora roupas vermelhas. Vai continuar usando a cor do PT?
Havanir
– O vermelho representa coragem, força. É a cor da paixão. Fica bem na pele morena, com o cabelo preto. Mas não é a cor habitual de que mais gosto. Eu prefiro o preto. Só que na televisão não tem muito como usar, porque não destaca. Eu posso continuar ou não usando o vermelho. Vai ser uma opção minha. Mas a cor da roupa nada tem a ver com o partido x, y ou z.