Assista ao vídeo e conheça um pouco da trajetória percorrida pelos atletas:

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DESAFIO
Equipes Uruguay e Calandra Multisport na seção
de canoagem da corredeira do rio das Brancas

Quando as coisas começam a dar errado, é sinal de que a aventura está começando. A frase, proferida pelo pioneiro escalador e empresário Yvon Chouinard, fundador da marca esportiva The North Face, virou lema entre aqueles que apreciam os imprevistos e amam a vida ao ar livre. Essa sentença não tem lugar mais adequado para ressoar do que entre as 36 equipes que participaram do Ecomotion Pro 2012, corrida de aventura que completou nove anos de existência no Brasil, se afirmando como o principal evento do gênero no continente americano. Na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, os 140 atletas largaram juntos no dia 13 de maio para tentar completar os cerca de 600 quilômetros de prova em até seis dias, dormindo o mínimo possível pelo caminho, desafiando trechos de fortes corredeiras, mata fechada, chuvas e os limites do próprio corpo.

Apesar de ter desembarcado no País há mais de 12 anos, esta modalidade multiesportiva – envolve corrida em trilhas, mountain bike, canoagem e técnicas verticais – ainda impressiona a maior parte das pessoas comuns pelas longas distâncias e alto grau de esforço exigido por seus praticantes, que ainda por cima precisam ser exímios conhecedores de mapas topográficos. Os cenários escolhidos por aqueles que organizam competições assim são sempre lindos e remotos, para que os atletas possam desfrutar da sensação de estar completamente entregues à própria sorte, testando a afinidade com a natureza e as aptidões físicas e mentais. A sensação de isolamento, entretanto, não reflete o tamanho da estrutura e da responsabilidade envolvida em uma brincadeira dessas. A nona edição do Ecomotion Pro, por exemplo, mobilizou um staff de cerca de 150 profissionais, entre médicos, técnicos, organizadores e imprensa especializada, sem contar atletas. Além deles, cada quarteto de atletas compõe a própria equipe de apoio – formada por no mínimo duas pessoas – que fica responsável pelo transporte e manutenção dos equipamentos (como bicicletas, capacetes, coletes salva-vidas e remos), comida e mantimentos, montando e desmontando tudo isso ao longo da prova, em pontos acessíveis de carro, e preestabelecidos pela organização. Nessas “áreas de transição”, os quartetos encontram seus apoios, trocam os equipamentos, comem, cuidam de eventuais lesões e feridas, descansam alguns minutos e seguem para o trecho seguinte.

A complexa natureza desta competição se apoia em um conceito muito conhecido de humanos pré-históricos e animais minimamente evoluídos: o trabalho coletivo. “Os resultados das equipes estão relacionados, principalmente, à capacidade de trabalhar em equipe, dividir tarefas antes e durante a prova, e ter frieza para lidar com os companheiros nas horas de maior desconforto”, diz Rafael Campos, capitão da equipe Quasar Lontra Kailash, vice-campeã do Ecomotion Pro 2012. Para ele, que participou de todas as edições desse evento, além de dezenas de outras corridas de aventura internacionais, as diferenças de valores, cultura e personalidade dentro do grupo exercitam a tolerância e atingem níveis de aprendizado que vão muito além do esporte. “O que a gente passa nas provas é intenso demais. Transpor isso para as muitas esferas da vida, como o ambiente de trabalho, por exemplo, ajuda muito. Tenho uma análise bem melhor das relações e observo isso nas pessoas que fazem provas de aventura. Ninguém ficou perfeito, mas melhorou bastante.”

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Criador da marca Ecomotion e ex-proprietário do evento, o empresário Said Aiach passou o bastão, no ano passado, para os irmãos Thiago, Pedro e Silvia Guimarães, atuais donos da prova. Said, que organizou três versões curtas do Ecomotion e oito em formato de expedição – com mais de três dias de competição –, acredita que o bom desempenho das equipes depende da gestão de deficiências de cada um e não das virtudes individuais. “É uma experiência de vida inacreditável, onde parece que tudo está sendo feito para dar errado. Por isso, tem que ter um perfil específico para encarar essa realidade, saber tomar atitudes rápidas que sempre terão implicações de longo prazo”, afirma. E bota longo prazo nisso. Quem não se perdeu no meio do caminho (o que é quase inevitável) e fez a prova de cabo a rabo remou 108 quilômetros, pedalou 321, caminhou ou correu outros 155 e ainda desceu mil metros de tirolesa e rapel.

Além dos pontos fracos, as equipes também administram as diferentes habilidades dentro do grupo, quase sempre composto por três homens e uma mulher. Atleta e sócia da assessoria esportiva Núcleo Aventura, Cristina de Carvalho já esteve ao lado de Silvia Guimarães na equipe Atenah, primeira no mundo a ter quatro mulheres, e foi à Chapada dos Veadeiros nesta edição do Ecomotion como capitã da Cavalera Go Outside. Para ela, a mulher tem um papel decisivo na composição do quarteto. “Acredito que a formação três homens e uma mulher foi pensada justamente para que se tenha, de verdade, uma dinâmica em equipe porque a mulher é necessariamente uma peça diferente das outras, desde a sua natureza até o padrão de força”, diz Cristina, que lembra da qualidade maternal, da capacidade conciliadora e da resistência das mulheres. “Os homens levam a equipe para a frente, as mulheres amarram todo o trabalho”, define a atleta, que participou da prova ao lado do marido, José Caputo, e dos amigos Caco Alzugaray e Frederico Gall.

Depois de 108 horas, apenas oito delas dormidas, a equipe espanhola Columbia Vidaraid cruzou a linha de chegada na cidade de Alto Paraíso. Durante a coletiva de imprensa, Jon Ander, um dos atletas campeões, agradeceu aos integrantes da sua equipe de apoio que, como um só núcleo, cuidou de cada um dos atletas da Columbia para suavizar aquela que foi considerada a edição mais dura do Ecomotion Pro.

 

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