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Uma equipe brasileira subiu ao lugar mais alto do pódio da principal corrida de aventura da América Latina, o Ecomotion Pro 2009, que percorreu a Serra do Espinhaço (MG) entre os dias 19 e 29 de novembro. A paulista Quasar Lontra, único time nacional a vencer uma edição da competição (2004), repetiu o feito após 94 horas de prova, quando cruzou a reta final, na praça da cidade de Diamantina. O 7º Ecomotion Pro reuniu 31 equipes, que protagonizaram uma das disputas mais acirradas em provas expedicionárias, com um duro percurso a ser vencido.

A Serra do Espinhaço foi escolhida graças à sua variação de altitude e terrenos, além das diversas opções de rotas. A cordilheira tem picos e vales que pon­tuam seus quase mil quilômetros de extensão e é tida como reserva da biosfera brasileira desde 2005, título conferido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). “Todas as modalidades do percurso estão muito técnicas e os atletas serão muito exigidos”, disse Said Aiach Neto, organizador da prova, minutos antes da largada.

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Na disputa da premiação por US$ 30 mil (R$ 51.690) estavam atletas de nove países, divididos em 31 equipes com quatro integrantes cada uma, sendo, no mínimo, uma mulher. O desafio consistia em passar pelos 26 postos de controle (PCs) ao longo dos 470 km ininterruptos do percurso, divididos em 211 km de mountain bike, 169 km de trekking e 90 km de canoagem em barcos infláveis (duck), além de um rapel de 70 metros e da travessia de uma caverna de 200 metros. Para guiar-se pelo terreno, apenas cartas topográficas e bússola.

Entre as equipes favoritas, ao lado da paulista Quasar Lontra, que mantém a mesma formação há dois anos, a Adventure Camp Repelex trouxe do berço mundial da corrida de aventura o casal Nora Audrá (Brasil) e Iand Edmond (Nova Zelândia) e a Oskalunga International, também com integrante brasileiro, convidou a dupla americana Paul Romero e Karen Ludgren, além do sueco Mikael Lindnord. Também competiram as puramente brasileiras Timberland Selva Kailash e os mineiros da BMG Trota Mundo, que, além de liderarem o ranking nacional da modalidade no momento, corriam no quintal de casa.

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SUPERAÇÃO A vice-campeã Adventure Camp Repelex luta para vencer trecho seco de rio durante etapa de canoagem

A base da prova foi a cidade de Diamantina, mas o local escolhido para a largada estava cerca de 300 quilômetros ao sul, já na região da Serra do Cipó. O primeiro trecho até o PC1 era de 29 quilômetros de trekking e serviu como uma espécie de trailer do que viria pela frente. Debaixo de muito sol e com temperatura superior a 30 graus, os competidores passaram por campos abertos, enfrentaram trilhas estreitas com pedras soltas, em meio a formações rochosas típicas da região, e tiveram opções de caminho para que os navegadores exercitassem sua habilidade na orientação.

Na Lapinha, povoado da Serra do Cipó e local da primeira troca de modalidade, a Quasar Lontra chegou com cerca de 40 minutos de vantagem. Na transição, eles se prepararam para as duas próximas modalidades, 17 quilômetros de mountain bike e 60 quilômetros de canoagem no rio Cipó durante a noite, com coletes salva-vidas, alimentação e roupas de frio.

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A liderança da equipe de São Paulo se manteve firme e progressiva, chegando a apresentar uma vantagem de mais de cinco horas em relação à segunda colocada, que se alternava entre a Selva, a Adventure Camp e o Oskalunga International. Mas um erro de navegação durante a segunda noite de prova, quando o time seguia de trekking em direção ao cânion do Funil (PC10), fez com que a Quasar Lontra perdesse a larga vantagem e fosse ultrapassada no percurso seguinte, de mountain bike, entre Presidente Kubitschek e Santo Antonio do Itambé. A Adventure Camp, formada por Mateus Ferraz, Sérgio Zolino, Nora Audrá e Ian Edmond, percebeu que tinha chances e passou a lutar com muita vontade pelo título da competição.

A partir daí, o que se presenciou foi uma das maiores disputas já vistas em corridas de aventura expedicionárias. O trecho seguinte da prova, que levou os atletas ao pico do Itambé (2.000 m), local mais alto da região, foi liderado no começo pela Adventure Camp e terminou, em São Gonçalo do Rio das Pedras, com a Quasar Lontra empatada, saindo para um trecho muito técnico de 56 km de mountain bike literalmente lado a lado. Depois de três dias de prova, e 350 quilômetros percorridos, a disputa estava completamente aberta. A equipe da capitã Nora fez uso de todas as ferramentas de trabalho para poder superar a força física e experiência dos excelentes atletas da Quasar Lontra. “Montamos o time duas semanas antes da prova. Também somos ótimos, mas eles pedalam muito forte e têm uma excelente sinergia”, reconheceu a capitã. De seu lado, a Quasar Lontra manteve a calma para recuperar, pouco a pouco, a vantagem. “Tivemos um pneu furado e, mesmo perdendo entre sete e oito minutos para trocá-lo, nunca deixamos de acreditar”, confessou o capitão Rafael Campos.

Terminado esse trecho, os esportistas passaram rapidamente pela Gruta do Salitre, onde fizeram o rapel e percorreram um trecho da caverna. A vantagem agora era de apenas 40 minutos para a equipe 100% brasileira. Mas uma regra estipulada para a próxima canoagem da prova poderia decidir antecipadamente o resultado. A equipe que não chegasse até a entrada do rio Jequitinhonha até as 17h deveria aguardar e largar apenas no dia seguinte, por questão de segurança – essa prática é conhecida nas corridas de aventura como dark zone. Na frente, a equipe Lontra tinha cerca de 1 hora e 15 minutos para percorrer os 14 quilômetros de mountain bike que os levaria à beira do rio até o horário limite. Certamente seus adversários não conseguiriam chegar a tempo. A expectativa era enorme em meio às rochas avermelhadas do Jequitinhonha, mas o time de Rafael Campos, Tessa Roorda, Erasmo Cardoso e Rodrigo de Souza perdeu a chance de remar sozinho rumo à chegada por apenas 11 minutos, e a prova ganhou uma emoção ainda maior com os dois grupos percorrendo os trechos finais da prova, que ainda envolvia 18 quilômetros de trekking e 15 quilômetros de mountain bike, na manhã seguinte, acreditando
na disputa. “Foi o percurso mais duro que já enfrentei”, reconheceu o vencedor Rafael Campos.
E um dos mais emocionantes.