A história costuma se repetir no PMDB. É o que sempre acontece às vésperas de ano eleitoral quando uma das alas do partido tira da cartola a tese da candidatura própria à Presidência da República. Tenta-se, com essa manobra, evitar a coligação formal com algum partido e deixar os peemedebistas livres para se aliarem com quem bem entenderem nos Estados. Este ano não é diferente. Mas a artimanha, dessa vez, surpreende por conta de seus principais artífices: o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), e o professor de Harvard Roberto Mangabeira Unger. Requião, que lançou na terça-feira 1o sua pré-candidatura ao Planalto, era até poucos meses atrás aliado de primeira hora do presidente Lula. Já Mangabeira foi ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo até o fim de junho. “Não compro, não vendo e não negocio a minha posição”, jura Requião. “Não podemos aceitar mais coligações que se façam em torno de acordos que levem em consideração uma diretoria estatal, um ministério, empregos e favores”, acrescentou.

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“Requião é criativo, mas será isolado no partido”
Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura

O próprio Requião sabe, porém, que a candidatura própria do PMDB à Presidência não tem condições de prosperar. Na reunião de terça-feira o quórum foi de apenas sete deputados e dois senadores. Nem a presidente em exercício do PMDB, Íris de Araújo (GO), estava presente para receber o documento que pedia ao Diretório Nacional para avaliar o nome de Requião como alternativa ao Planalto. O ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, um dos articuladores da candidatura com o intuito de rachar a convenção, prevista para julho de 2010, também não compareceu. Limitou-se a mandar uma carta de apoio. Requião insiste em dizer que tem o aval de representantes de 15 diretórios estaduais do partido. Não é bem assim. Por exemplo, quem assinou o documento favorável à candidatura em nome do Rio de Janeiro foi Mangabeira Unger, que é cristão novo na legenda e não tem nenhuma ascendência sobre o diretório fluminense. Pelo Ceará, o signatário foi Paes de Andrade, mas quem controla a legenda no Estado é o deputado Eunício Oliveira, um dos entusiastas da aliança do PMDB com o PT. “Não acredito nesta candidatura. O Requião tem ideias, é uma pessoa criativa, mas acho que será isolado dentro do partido”, afirma o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes (PMDB-PR).

“Não compro, não vendo e não negocio a minha posição nesse tema”
Roberto Requião, governador do Paraná

Quem comemora são os peemedebistas alinhados com a candidatura de José Serra ao Planalto. “Isso é muito bom para nós”, festejou o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) em conversa com aliados. O cálculo é simples: quanto maior o número de integrantes do PMDB contrários à formalização de uma aliança com o PT na convenção do ano que vem, maior a chance de o partido não apoiar ninguém oficialmente e se dividir. A fragmentação do partido, e a consequente liberação dos diretórios regionais para se aliarem com quem quiserem nos Estados, é exatamente a história que o PMDB protagoniza desde 1989, quando os brasileiros voltaram a eleger diretamente um presidente depois de duas décadas de ditadura.

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