Quem visita a suntuosa sede da Força Sindical, na rua Galvão Bueno, na região central de São Paulo, não precisa de muito esforço para saber que seu líder inconteste é o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força. Em gabinetes, salões, auditórios e corredores, a figura de Paulinho é quase onipresente. Por onde se olhe, lá está uma frase do deputado, uma foto em pose alegre ou em algum momento de euforia histórica. Metalúrgico por profissão, Paulinho é uma figura controversa no movimento sindical brasileiro.

Nunca teve uma ligação onde nasceu a maior central sindical do País, a CUT, e apoiou de forma consistente o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Entre os sindicalistas mais antigos do ABC, Paulinho ainda carrega a pecha de pelego. estreita com o ABC paulista.

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Apesar de todas as credenciais para colocá-lo em uma posição de ostracismo dentro de um universo que historicamente esteve ligado aos movimentos de esquerda, Paulinho é hoje, indubitavelmente, a cara do sindicalismo brasileiro. Nenhum dirigente sindical no País personifica junto à opinião pública o movimento como ele, nem mesmo os históricos ex-presidentes da CUT que seguiram carreira política, como o hoje deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), ou o atual prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PTSP). “Sou independente do governo e a Força Sindical não ficou à mercê do Planalto como a CUT está hoje”, diz Paulinho, ao explicar a razão de sua ascensão no movimento sindical.

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Por mais estranho que isso possa parecer em um país comandado por um ex-sindicalista, Paulinho tem razão. Sua liderança isolada comprova a tese de que não existe sindicalismo de situação e de que sindicatos fortes são aqueles que se mantêm constantemente combativos. Isso não significa que a Força Sindical seja exatamente o que se possa chamar de uma central que suplanta quaisquer interesses políticos. Mas, ao contrário da CUT, que nesses últimos sete anos precisou rever algumas de suas posições em prol do fortalecimento de Lula, a Força de fato manteve um certo distanciamento do governo. “A CUT se enfraqueceu porque confundiu os interesses do Estado com os interesses de seus representados. Isso ecoou na base da central”, afirma um consultor do movimento sindical.

Não à toa facções mais à esquerda decidiram abandoná-la e formar suas próprias centrais. Paulinho sempre sofreu críticas da CUT por suas ligações com os partidos de centro-direita. A central que preside nasceu sob os auspícios de um Planalto governado por Fernando Collor de Mello. Não foram raras as vezes em que a CUT o acusou de ser o sindicalista de FHC, com quem até hoje mantém uma relação de amizade estreita. Agora é a mesma CUT que amarga o papel de ser considerada o amortecedor no governo junto aos movimentos trabalhistas. O caso mais recente dessa situação quase dicotômica é a questão da previdência.

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Crítica feroz das mudanças implantadas por FHC no final da década passada, hoje a CUT reluta em apoiar de forma intransigente o projeto do senador petista Paulo Paim (RS) que prevê a extinção do fator previdenciário, uma complexa fórmula matemática usada para protelar a chegada à aposentadoria pelos trabalhadores brasileiros e, consequentemente, reduzir o valor dos benefícios pagos. “Estou tranquilo, fiz meu papel com a história”, diz o senador Paim. “Não quero entrar em mérito de valores, só acho que para se conseguir as coisas é preciso pressão. Quanto mais pressão, melhor”, afirmou Paim, sem citar a CUT. A CUT, por sua vez, decidiu não ressionar o Congresso a aprovar o projeto de Paim.

A justificativa é de que algo pior para os trabalhadores está sendo gestado nos labirintos do Poder Legislativo. “Depois de derrubar o fator previdenciário vão querer instaurar a idade mínima, o que é pior. Por isso, preferimos sentar com o governo e negociar do que pura e simplesmente apoiar o projeto do Paim”, afirma Artur Henrique da Silva, atual presidente da CUT, que no final dos anos 90 entrou com pedido no Supremo Tribunal Federal para que o fator previdenciário fosse expurgado. Artur também discorda da proposta de aumento para os aposentados proposto pelas outras centrais sindicais, que preveem uma fórmula que inclui o índice de inflação mais 80% da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto do País nos dois anos anteriores.

Para a central, o ideal é a proposta do governo, que quer conceder a inflação mais 50% do PIB. “A verdade é que esse é um número bom apenas para negociar”, diz. Artur e outros antigos sindicalistas da CUT não aceitam a teoria de que a central perdeu força e de que Paulinho é hoje o principal representante do movimento. “A CUT é maior que seus dirigentes, que são muito qualificado. Ela sai fortalecida do governo Lula”, diz Vicentinho, um deputado que integra o núcleo duro de apoio ao governo na Câmara. “O Paulinho é o dono da Força e ele mistura as coisas ao ser deputado”, diz Artur.

O fato é que a maior bandeira do movimento neste momento, a redução da jornada de trabalho para 40 horas, está nas mãos de Paulinho. A redução é uma reivindicação antiga da CUT, mas os protestos da central já não ecoam como antes. Pelo menos, até o momento, aos olhos da opinião pública, quem encabeça a discussão que entrará na pauta em 2010 é o sindicalista que integrou a coordenação da campanha para a reeleição de FHC e garante nunca ter votado em Lula. “Nem nas últimas eleições. Em 2006, fui de Alckmin”, diz ele.