img.jpg
EQUAÇÃO MEIRELLES
Ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles
comunicou ao Planalto a compra da Delta

Na segunda-feira 7, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, hoje presidente do conselho consultivo da holding J&F, ligou para o gabinete da presidenta Dilma Rousseff e pediu a um assessor palaciano que repassasse a ela uma informação importante. “Digam que nossa empresa (dona do grupo JBS) assumirá o controle da construtora Delta”, afirmou. A notícia caiu do céu para o governo. O Planalto está acompanhando de perto os desdobramentos da CPI do Cachoeira, mas sua maior preocupação, no momento, é com o futuro das obras públicas nas mãos da Delta, a maior empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Triturados pelo escândalo envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira, a Delta e seu dono Fernando Cavendish, perderam todo o crédito e também a credibilidade. Dezenas de obras foram embargadas; os repasses governamentais minguaram; e a construtora se viu obrigada a entregar sua fatia em consórcios. Antes que a Delta virasse pó, Meirelles apareceu com a redentora opção de compra. “É um bom negócio. Do ponto de vista dos números que examinamos, a empresa tem potencial financeiro e alta qualificação técnica”, diz o ex-presidente do BC, que foi o arquiteto da operação.

No Planalto, mesmo após a confirmação do negócio, comentava-se que seria melhor uma empreiteira ter assumido as obras da Delta. Teria havido consulta informal à Odebrecht, mas a resposta foi negativa. Pensava-se na alternativa de repassar contratos aos segundos colocados e até convocar o Exército para concluir as obras. Ao fim, diante da sinuca provocada pela Delta, só restou aceitar de bom grado a solução apresentada pela J&F. Mas a sociedade com o BNDES, por meio da JBS, criou celeuma na Câmara. A oposição quer que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, explique por que o banco estatal está participando da compra. O Ministério Público do Rio de Janeiro decidiu, na quinta-feira 10, abrir inquérito para apurar se houve irregularidade na venda da construtora. O BNDES diz que o negócio é uma decisão privada, que não depende de sua anuência. “Caso seja concretizada a venda, o BNDES não se tornará sócio da construtora, já que é acionista apenas da JBS, empresa do setor de proteína animal”, explicou a instituição em nota oficial.

O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) vê outro problema na compra da Delta. Ele pediu que a Procuradoria-Geral da República barre o negócio para impedir que ex-executivos da Delta, como Fernando Cavendish, saiam impunes. Miro Teixeira quer que a PGR faça um inventário de todos os bens da empreiteira e os torne indisponíveis “para evitar que bandidos encontrem no crime uma atividade lucrativa e vantajosa”. Portanto, o futuro da construtora vai além das boas intenções da holding J&F. E a conclusão das obras do PAC também continua incerta.

img1.jpg
PARALISADA
Obra da Delta no Rio é apenas uma das que estão paradas em todo o País

Numa avaliação preliminar, o valor de mercado da Delta é de R$ 1 bilhão, o equivalente a seu patrimônio líquido, mas ficou acertado que a J&F não desembolsará nenhum centavo pela empresa. Só fechará a compra depois de uma auditoria feita pela KPMG nos próximos dois meses. Tocará os mais de 200 contratos no valor de R$ 4,5 bilhões e, se tiver lucro, repassará parte dos dividendos aos atuais sócios da Delta como pagamento pela construtora. Se houver prejuízo, até porque diversas obras estão atrasadas, os donos da empreiteira não receberão nada. Mesmo com tanta incerteza, a J&F vê na compra da Delta uma excelente oportunidade para entrar na área de construção civil. Além do JBS, maior produtor de carne do mundo, que tem 31,4% de participação do BNDES, a holding controla o Banco Original; a Eldorado Brasil, de celulose; a Flora, de higiene e limpeza; e a fábrica de alimentos Vigor. Diante dos temores com a inexperiência com grandes obras, Meirelles tem uma resposta automática: “Essa é uma visão equivocada. Quem tem experiência comprovada com a construção civil é a própria Delta.” Os novos donos lembram que a Delta tem 50% do tamanho da maior empreiteira do País.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Os planos da J&F para a Delta começam por substituir toda a diretoria, mudar o nome da empresa e contratar um executivo de peso no mercado. “Nosso objetivo é  honrar os contratos que serão auditados e preservar os 30 mil empregos”, diz Joesley Batista, acionista da J&F. A holding também aguarda parecer da Controladoria-Geral da União sobre sua idoneidade. Se for declarada inidônea, a Delta não poderá assinar novos contratos, mesmo nas concorrências que já venceu. Mas o novo comprador poderá concluir as obras já iniciadas e o veto valerá apenas para novos projetos com o mesmo CNPJ.

img2.jpgimg3.jpg


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias