ROBERTO JAYME/PHOTONEWS

MODELOS Jornalista e advogado, Edison Lobão cita os exemplos de José Serra e Antônio Palocci para rebater os críticos de sua nomeação

O fantasma do apagão energético volta a rondar o País. Reservatórios vazios, alta de preços de energia no mercado e a possibilidade de racionamento compõem um cenário sombrio que a população imaginava já ter ficado para trás. Nos próximos três anos, o Brasil vai ter que contar com a ajuda de São Pedro para não ter que enfrentar um novo apagão como o de 2001. E a ameaça de um colapso energético não poderia ter vindo em momento mais inadequado: em meio a uma queda-de-braço no governo por postos-chave do setor energético. De um lado a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, até então a todo-poderosa da energia, e de outro o PMDB, do senador José Sarney (PMDB-AP). A primeira batalha foi vencida pelo PMDB. Pressionado a recompor a base de apoio no Congresso, necessário para aprovar o pacote de medidas de compensação à perda da CPMF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou uma dança de cadeiras na área. Sai o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, técnico ligado à ministra da Casa Civil, e assume o senador do PMDB maranhense, Edison Lobão, apadrinhado por Sarney. “Então está feito, vai ser ele”, disse Lula em conversa com a cúpula do PMDB na noite da quinta-feira 10, no Palácio do Planalto.

Jornalista e advogado por formação, Lobão toma posse diante de uma encruzilhada. Além de vencer as desconfianças dentro do governo, por não ter experiência na área, terá de administrar os dois Brasis que, por sorte ou azar dele, calharam de se encontrar na Pasta de Minas e Energia. O Brasil político, movido pela troca de cargos por apoio no Congresso, e o País da economia real, do crescimento, da geração de empregos e que precisa mais do que nunca de energia para fazer funcionar a mola propulsora do desenvolvimento. O desafio de Lobão é imenso. Embora o Brasil possua uma das maiores bacias hidrográficas do mundo, as hidrelétricas existentes no País ainda não são suficientes para atender ao consumo, principalmente agora que a economia cresceu. O alerta foi dado durante a semana pelo diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman. Caso se mantenha, até o fim de abril, o baixo nível pluviométrico verificado neste início de período de chuvas, se fará necessário a apresentação de um plano de racionamento. Apesar de a previsão não ter sido endossada pelo ministro interino, Nelson Hubner, o presidente Lula revelou preocupação em conversa a portas fechadas com Dilma, que, em férias, foi chamada às pressas a Brasília para discutir a questão. A primeira medida: foram acionadas seis usinas termelétricas a óleo no Sudeste para aumentar a oferta de eletricidade em até 1.200 megawatts (MW).

Os números são mesmo preocupantes. Com um volume de chuvas abaixo da média dos últimos 76 anos, a água armazenada nos reservatórios do Sudeste caiu para 44,9%, quando o limite mínimo estabelecido pelo governo era de 51%. A geração de energia tem ficado em cerca de 4,5 mil MW médios, apesar de o País ter capacidade para gerar até 12 mil megawatts (MW) de térmicas, o que corresponde a menos de 10% do consumo nacional. A questão do gás também não foi solucionada. A combinação entre gás natural e energia hidrelétrica depende agora da importação de gás liquefeito de petróleo (GNL) pela Petrobras. Lobão diz que uma das alternativas para resolver a crise é obter mais gás da Bolívia. Mau começo para o ministro. Todos os especialistas sabem que a Bolívia não tem mais gás para entregar. “O importante é saber administrar”, disse o senador, que rechaça as críticas de que não é do ramo lembrando que o governador de São Paulo, José Serra, foi um ótimo ministro da Saúde, “mesmo sendo economista”, e o médico Antônio Palocci foi um excelente ministro da Fazenda.

Domar o chamado “Brasil político” também não será tarefa fácil. Cristão-novo no PMDB, Lobão desembarca no Ministério pressionado a saciar a sede do partido por cargos. O fantasma do apagão joga a favor de Dilma. A ministra controla, hoje, mais de 30 cargoschave no Ministério. Em conversa com Lula, ela pediu que o presidente preservasse os postos da equipe técnica. Lula se mostrou sensível aos apelos da ministra, mas o PMDB não se dá por vencido. “Queremos os principais cargos”, disse o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). No apagão de energia, o que a nomeação de Lobão acendeu foi a usina de intrigas políticas.