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TRAGÉDIA
Campeão mundial, o nadador norueguês Alexander Dale
Oen morreu no chuveiro, depois de um treino

Herói da Noruega, o campeão mundial de 100 m nado de peito Alexander Dale Oen, 26 anos, aparentava estar bem-disposto durante o treino leve na piscina e uma posterior partida de golfe, na segunda-feira 30 de abril. Nada indicava que ele seria encontrado morto, minutos depois, em um dos chuveiros do centro de treinamento de Flagstaff, no Estado americano do Arizona, onde se preparava para os Jogos Olímpicos de Londres. Dale Oen tornou-se o quarto atleta de alto rendimento vitimado por morte súbita em um espaço de 45 dias. A tragédia comoveu a comunidade esportiva internacional ao mesmo tempo em que alertou para a importância de os esportistas de alto rendimento se submeterem a exames cardíacos periódicos.

Apesar da imagem pública, atletas não são super-homens. Pesquisa do Comitê Olímpico Internacional registrou mais de mil casos de morte súbita durante competições em desportistas com idade inferior a 35 anos, entre os anos de 1966 e 2004. Estatísticas médicas nos Estados Unidos mostram que o grupo tem três vezes mais chances de sucumbir a esse mal do que as pessoas normais. “Nas últimas décadas, as modalidades esportivas experimentaram um aumento exponencial da competitividade, que exige performances e rotina de treinamentos extenuantes para os atletas”, afirma o diretor do Centro de Treinamento em Emergências do Instituto do Coração, Sérgio Timerman. As notícias recentes comprovam. Em 24 de março, o medalhista olímpico da seleção italiana de vôlei na Olimpíada de Atlanta (1996) Vigor Bovolenta, 37 anos, morreu após reclamar de dores no peito durante a partida entre sua equipe, Forli, contra o Macerata Lube, pela segunda divisão do campeonato italiano. O dia 14 de abril foi perversamente fatídico: morreram a ex-jogadora de vôlei da seleção venezuelana Verônica Gómez, 26 anos, e o meia de futebol do Livorno, o italiano Piermario Morosini, 27.

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INCOMPETÊNCIA
O jogador de futebol italiano Morosini: o não uso de
desfibrilador pode ter colaborado para a morte

E agora Dale Oen. “Definitivamente eu quero ir ao Rio de Janeiro em 2016. Meu treinador diz que posso ir até os 37 anos, mas não acredito muito. Primeiro penso em Londres, depois vamos ao Rio”, declarou o jovem norueguês, na última entrevista que concedeu. Nos Estados Unidos, onde Dale Oen treinava, não há obrigatoriedade de exames específicos em desportistas. Simples consultas médicas são suficientes para liberá-los para o treino, preconiza a Associação Americana do Coração. Em um país em que atuam cinco milhões de atletas, persiste a visão de que o custo de análises mais detalhadas seria muito alto para salvar um número reduzido de esportistas que apresentam anormalidades cardíacas. “Se salvar uma vida apenas, vai valer a pena”, disse Jim Willerson, presidente do Instituto do Coração do Texas, que comanda uma pesquisa de US$ 5 milhões em dez mil alunos do ensino médio sobre anomalias cardíacas em jovens. O Brasil está um passo à frente nesse quesito. “Submeter atletas de alto rendimento a exames de eletrocardiograma, teste ergométrico e ecocardiograma é a tríade fundamental para que vidas sejam salvas e já é uma realidade por aqui”, diz Nabil Ghorayeb, chefe do Sport Check-up Hospital do Coração e da Seção Médica de Cardiologia do Exercício e do Esporte do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Lá, estão reunidos os fichários médicos de dez mil atletas brasileiros desde a década de 1970 – em 8,2% dos casos, houve registro de cardiopatias.

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RESSURREIÇÃO
Muamba, jogador do Bolton, volta a campo após ficar clinicamente
morto por 78 minutos: 15 choques desfibriladores

A morte súbita em pessoas jovens geralmente tem origem em um defeito estrutural no coração ou em um problema em seu circuito elétrico. A causa mais frequente, em cerca de 40% dos casos, é a cardiomiopatia hipertrófica, ou HCM, um aumento demasiado do músculo cardíaco. A cada minuto após uma parada cardíaca, a chance de sobrevivência da vítima diminui em 10%. Após o terceiro minuto, a possibilidade de sequelas graves é muito grande. “A prevenção é fundamental, mas saber como agir em casos de emergência também”, aponta Timerman, que trouxe ao Brasil o conceito da técnica BLS, em 1998, que consiste em formas de ressuscitação cardiopulmonar. “A presença de desfibriladores nos estádios e ginásios e de pessoas que saibam usá-los é mais importante, por exemplo, do que a de ambulâncias”, afirma Ghorayeb. A contração desordenada do músculo cardíaco, também conhecida como fibrilação ventricular, é presente na maioria dos casos de parada cardíaca. Aplicando choques elétricos na parede torácica, o desfibrilador tem a função de reverter esse quadro clínico.

O não uso do desfibrilador e a demora no atendimento podem ter colaborado para a morte de Morosini – o caso está sob investigação na Itália. Desfecho diferente teve o jogo da Copa da Inglaterra entre Bolton e Tottenham, em 17 de março, quando o meio campista Patrice Muamba, 23 anos, do Bolton, ficou clinicamente morto por 78 minutos após sofrer sucessivas paradas cardíacas. Nesse período, os médicos aplicaram 15 choques desfibriladores – dois em campo e 13 na ambulância. “Senti duas batidas com a minha cabeça e mais nada. Escuridão. Eu estava morto”, disse Muamba. A presteza do atendimento médico o trouxe de volta à vida.

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