Movidos por parâmetros meramente mercantilistas e extrativistas, os deputados federais aprovaram na semana passada uma afronta ecológica sem precedentes. O novo Código Florestal nada mais é do que um cheque em branco, uma anistia vergonhosa e inaceitável, aos desmatadores que por décadas praticaram a exploração desmedida. Representa um retrocesso para o País, que sempre se vangloriou da
condição de pulmão do mundo, cinturão verde do planeta.
A sociedade, indignada, protestou. 
Eleitores correram ao Congresso para manifestar a insatisfação. Mas seus representantes fi zeram ouvidos moucos, sorriram satisfeitos com a aprovação da lei e deram de ombros. Nada barrou a forte, e financeiramente bem azeitada por seus patronos, bancada ruralista, que conseguiu demover resistências até entre adversários partidários.
Nos termos defi nidos a cada parágrafo do novo Código, que ainda precisa da sanção da presidenta Dilma, o status de maior reserva ambiental será irremediavelmente perdido pelo Brasil. E em breve. As limitações adotadas no capítulo do replantio, a baixa proteção às nascentes de rios, o descaso com vários ecossistemas como o manguezal são exemplos eloquentes desse atentado ao meio ambiente.
Como explicar tamanha insensatez parlamentar?
A combinação perversa de omissão, descaso e interesses fi nanceiros além da conta dá uma pista dos tortuosos caminhos seguidos pelos políticos simpatizantes do texto, que abraçam de maneira inconsequente lobbies e interesses econômicos em prejuízo da natureza e do bem-estar dos cidadãos. Na lei aprovada foi retirada a proteção às matas em área urbana. Solos salinos adjacentes aos manguezais, apicuns e salgados não serão mais considerados áreas de preservação permanente.
Propriedades rurais com rios de até dez metros de largura terão de recuperar uma faixa de apenas 15 metros em cada margem.
O projeto defendido pelo governo falava em refl orestamento de 100 metros a partir das margens. A distância gritante de referências mostra o abismo que se montou entre as reais necessidades do meio e da produção. A última fronteira capaz de barrar esse despautério do Legislativo reside no Planalto. Somente o veto da presidenta Dilma para resgatar o equilíbrio na discussão.