2025, um ano decisivo para Lula?

2025, um ano decisivo para Lula?

"CandidatoPresidente começa o ano em meio a conflitos com Congresso e operadores do mercado, e aguarda impactos da volta de Trump à Casa Branca. Debate sobre possível candidatura à reeleição ficará mais forte.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entra nesta quarta-feira (01/01) na segunda metade de seu atual mandato na Presidência da República, em meio a conflitos com o Congresso, mais conservador que o governo, e embates com operadores do mercado, que pressionam por equilíbrio fiscal. E com um fator novo no cenário internacional: a volta de Donald Trump à Casa Branca.

Aos 79 anos, Lula também será cada vez mais questionado se será candidato à reeleição em 2026. Em entrevista recente à CNN Internacional, ele não descartou essa hipótese: "Se chegar na hora e os partidos entenderam que não há outro candidato para enfrentar uma pessoa de extrema direita – que seja negacionista, que não acredita na medicina e na ciência –, obviamente, estarei pronto para enfrentar", disse, pontuando, no entanto, que espera que isso "não seja necessário".

Ele está na frente nas pesquisas. Um levantamento feito pela Genial/Quaest divulgado em 12 de dezembro aponta que Lula derrotaria os principais nomes da direita – Tarcísio de Freitas (Republicanos), Pablo Marçal (PRTB), Ronaldo Caiado (União) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral que o condenou por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em ataques às urnas eletrônicas.

Por outro lado, uma pesquisa do Datafolha divulgada em 17 de dezembro identificou leve piora nos índices de avaliação do seu governo, considerado ótimo ou bom por 35% (um ponto percentual a menos que em outubro) e ruim ou péssimo para 34% (dois pontos percentuais a mais).

Crescimento e emprego, com alta da inflação

"Tem uma luz amarela para o governo e para as forças progressistas. É de se esperar que neste ano se façam mudanças de rumo e de governabilidade", afirma à DW a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

Ela avalia que um dos principais problemas para a popularidade de Lula é o aumento do custo de vida. O Banco Central estima que a inflação anual de 2024 ficará em 4,84%, acima do teto da meta, que é 4,5%.

Pesam no bolso da população itens como as carnes, cujo preço subiu mais de 8% só em novembro. E isso se reflete na popularidade, principalmente no segmento entre 2 a 5 salários mínimos, um eleitorado importante para o petista. Nessa faixa de renda, a avaliação de ruim ou péssimo do governo passou de 39% em outubro para 42% em dezembro, segundo o Datafolha.

Também há bons números, como alta no PIB, aumento da renda do trabalhador e taxa de desemprego na mínima histórica, que no entanto aparecem em meio a derrotas do governo no Congresso, como a desidratação de medidas fiscais, recuos como o adiamento do envio do projeto para ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil, e aumentos da taxa de juros e do dólar.

"Vem o governo e fala que vai reduzir o imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. Passou? Nem passou. É mais um descrédito que passa, e até agora não tem uma comunicação mostrando que tentou fazer algo e não conseguiu", afirma Braga.

Falta de alternativa na esquerda?

É justamente no ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), envolvido diretamente na economia, que reside a principal alternativa a Lula em 2026. O candidato derrotado por Bolsonaro em 2018, porém, acumula fracassos recentes nas urnas: além da Presidência, perdeu a reeleição para a prefeitura de São Paulo, em 2016, e para o governo paulista, em 2022.

"Haddad não tem capital político quase nenhum fora do Lula. Ele não tem autonomia política, como a Dilma não tinha, e a gente sabe quais são as consequências disso num governo de coalizão, o que é inevitável no Brasil", afirma o cientista político Paulo Henrique Cassimiro, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Para ele, o desempenho macroeconômicos da gestão Lula tem despertado reação negativa do mercado por um ruído ideológico. "Qualquer governo que assuma um discurso que não seja em primeiro lugar um equilíbrio fiscal sofre essa reação. O Bolsonaro também sofreu, mas ele tinha um ministro (Paulo Guedes) que era fiador do mercado, mesmo quando Bolsonaro contradizia isso", diz Cassimiro. "Haddad não deixa de discutir a questão fiscal, mas coloca como prioridade o crescimento, não só do PIB, mas também de renda. E o governo não tem conseguido converter isso em melhora da avaliação, é uma sinuca de bico."

Outra dúvida sobre o papel de Haddad como liderança alternativa a Lula é o desempenho do PT. Nas eleições de 2024, o partido teve apenas um candidato eleito em uma capital brasileira, com Evandro Leitão em Fortaleza (CE).

"O PT é um partido em franca decadência, do ponto de vista do tamanho de bancada e de votos que consegue amealhar, muito dependente da capacidade do Lula de atrair votos. E não vai querer abrir mão da cabeça de chapa, vai querer emplacar um candidato do partido, mas não há uma alternativa a Lula", diz Cassimiro.

Ele vê como uma das lições de 2024 a vantagem da centro-direita, que se mostrou vitoriosa nos embates contra a esquerda e também contra a extrema direita, ao assumir discursos "menos truculentos". Para Braga, da Ufscar, isso pode levar a uma composição de chapa do PT com um candidato mais afinado às elites econômicas, como ocorreu em 2002 e 2006, com o empresário José Alencar como vice de Lula.

A questão da saúde de Lula também coloca interrogações sobre uma possível disputa à reeleição. Em dezembro, ele foi submetido às pressas a uma cirurgia no cérebro para conter um sangramento, resultado tardio de um acidente doméstico ocorrido em outubro. Segundo os médicos, contudo, não há sequelas. "Ele não está mal de saúde, é diferente do que ocorreu na questão do Biden. Apesar da idade, política não tem isso, se a pessoa está coerente e pensando", diz Braga.

Efeito Trump e pragmatismo nas relações internacionais

No caso de Joe Biden, de 82 anos, dúvidas sobre a saúde levaram a uma pressão por parte do Partido Democrata, que acabou escolhendo a vice-presidente Kamala Harris para concorrer contra Donald Trump. A estratégia não deu certo, e o republicano foi reeleito e assume o governo dos Estados Unidos em 20 de janeiro.

Líder da extrema direita mundial e aliado de Bolsonaro, Trump será outro desafio da segunda metade do governo de Lula. No entanto, diferentemente de Bolsonaro, que relutou em reconhecer a vitória de Biden em 2020, o atual presidente da República parabenizou o republicano prontamente, até mesmo antes da imprensa confirmá-lo como vencedor, lembra Roberto Goulart Menezes, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Instituto Nacional de Estudos sobre os Estados Unidos.

"O Brasil vai procurar agir de forma pragmática em relação ao Trump. Mas dada a turbulência que ele vai criar, talvez o pragmatismo não dê conta", diz, lembrando do interesse do republicano em retomar o canal do Panamá, atualmente administrado por uma empresa chinesa. Em dezembro, Trump disse que o Brasil impunha tarifas altas sobre produtos importados dos EUA e que seu governo adotaria medidas semelhantes sobre produtos brasileiros.

Já na América do Sul, Lula tentou mediar o impasse eleitoral na Venezuela, mas foi rechaçado por Nicolás Maduro, com quem acabou rompendo laços. Mudou a rota para tentar minimizar os danos da chegada do populista de direita Javier Milei na Argentina e, com isso, reforçou o diálogo com o Mercosul.

Os esforços com os países vizinhos levaram à conclusão dos termos do tratado de livre comércio entre Mercosul e União Europeia (UE), depois de 25 anos de negociações. Além disso, o país sediou a cúpula do G20, em novembro, com a presença do líder chinês, Xi Jinping, e do presidente dos EUA, Joe Biden.

Para 2025, a expectativa é com a realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em novembro, em Belém (PA), marcando os dez anos do Acordo de Paris – cuja saída dos Estados Unidos já foi anunciada por Trump. Isso significa que mais 50 milhões dólares anunciados por Biden para o Fundo Amazônia provavelmente não vão chegar, diz Menezes.

"O Brasil sabe que vai fazer uma COP 30 provavelmente com a ausência dos EUA. Mas vai trazer os chefes de Estado e tentar retomar o protagonismo internacional na questão da Amazônia. O país vai colocar todas as forças nisso", afirma.