O jornalismo enfrentará muitos desafios em 2024, ano em que o noticiário provavelmente será marcado pelos conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia, as possibilidades em termos de desinformação com Inteligência Artificial (IA) e pela desconfiança com os meios de comunicação.

– Gaza, território violento para jornalistas –

Ao menos 63 repórteres e profissionais da imprensa (56 palestinos, quatro israelenses e três libaneses) morreram desde 7 de outubro devido à guerra devastadora entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas em Gaza, segundo o Comitê de Proteção dos Jornalistas (CPJ).

“Gaza é um cemitério de jornalistas”, lamentou no fim de novembro a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) sobre um dos conflitos com um dos maiores números de jornalistas mortos em um curto período de tempo.

Uma investigação da AFP, publicada na semana passada, sobre o bombardeio que matou um jornalista da agência Reuters, Issam Abdallah, e feriu outros seis, incluindo a fotógrafa da AFP Christina Assi, no sul do Líbano em 13 de outubro, indica que foi provocado por um projétil de um blindado israelense. Um porta-voz do Exército de Israel afirmou que o local onde os repórteres estavam era “uma zona de combate ativa”.

Além das várias mortes de jornalistas, outras dificuldades afetam a cobertura da guerra, como a propaganda dos dois lados, a impossibilidade de entrar na Faixa de Gaza para os repórteres estrangeiros e as pressões de opiniões públicas polarizadas.

– Ucrânia, outro ‘front’ perigoso –

Desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022, entre 11 e 15 repórteres, colaboradores (que ajudam a organizar as reportagens) e motoristas de jornalistas morreram na Ucrânia, segundo o CPJ e a RSF.

Em 9 de maio, o jornalista Arman Soldin, coordenador de vídeo da AFP na Ucrânia, faleceu em um bombardeio russo no leste do país, perto da cidade de Bakhmut.

Na Rússia, qualquer crítica à guerra é duramente reprimida e as autoridades anunciam punições aos meios de comunicação independentes, ONGs, advogados e opositores.

– Sigilo das fontes: protegido ou em perigo? –

Considerado uma das “pedras angulares da liberdade de imprensa” pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, o sigilo das fontes é ameaçado com frequência, inclusive em democracias estabelecidas.

Na França provocou polêmica, em setembro, a detenção e operação de busca na residência, além de análise dos dispositivos eletrônicos, da jornalista Arianne Lavrilleux, que publicou uma série de reportagens investigativas no Disclose sobre as vendas de armas francesas ao exterior, a colaboração dos serviços de inteligência franceses com o regime do Egito.

Atualmente está sendo debatida uma lei europeia sobre a liberdade de imprensa.

A RSF e outras organizações de jornalistas expressaram preocupação com as revogações em nome da “segurança nacional” que a regulamentação poderia incluir.

– Preocupação com a Inteligência Artificial –

Os programas de Inteligência Artificial (IA), como ChatGPT, foram um dos fenômenos de 2023 e isto provocou muitas dúvidas sobre como pode afetar a atividade jornalística, do fim de postos de trabalho até sofisticadas manipulações das notícias.

“Devemos levar muito a sério, pois em caso contrário podemos perder nossas democracias”, advertiu a jornalista filipina Maria Ressa, vencedora do Nobel da Paz em 2021 e que preside uma comissão sobre jornalismo e IA, apoiada pela RSF.

“Ao menos 54 países terão eleições importantes em 2024 e estamos longe de poder garantir sua integridade”, alertou Ressa, que teme que os efeitos manipuladores da IA se tornem cada vez mais perceptíveis no próximo ano.

– Perda de confiança e influência –

A perda de influência dos meios de comunicação tradicionais é uma tendência das últimas décadas, favorecida pelas dificuldades e mudanças econômicas no setor, assim como pela criação das redes sociais.

Uma das novidades neste sentido nos últimos anos foi o surgimento da figura do “influencer” como fonte de informação em que setores da população, em particular os jovens, confiam mais que na imprensa tradicional.

A advertência foi apresentada em um relatório do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, publicado em junho e elaborado com base em pesquisas com 94.000 pessoas em 46 países.

Segundo o relatório, mais da metade dos usuários do TikTok, Snapchat e Instagram priorizam “influencers” ou celebridades como fontes de informação.

Entre estas plataformas, muito utilizadas por jovens, a chinesa TikTok é a que registra “maior crescimento”: 20% das pessoas entre 18 e 24 anos a utilizam como fonte de acesso à informação (cinco pontos a mais que em 2022).

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