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Maior partido político do País, o PMDB saiu essas eleições municipais com um considerável aumento de sua massa muscular: conquistou as prefeituras de 1.201 cidades (tinha 1.059), entre elas seis capitais, e administrará um orçamento de quase R$ 50 bilhões. Com uma capilaridade única no País, o PMDB, contudo, é incapaz de gestar um nome nacional que possa disputar a sucessão do presidente Lula em 2010. Nas duas vezes em que se lançou ao Planalto – em 1989, com Ulysses Guimarães, e em 1994, com Orestes Quércia -, o partido colheu resultados pífios (menos de 5%). E hoje o PMDB assemelha- se àqueles bonecos de parques de diversões que têm um corpo enorme e um orifício no lugar do rosto, onde qualquer pessoa pode colocar a cabeça e dar personalidade ao brinquedo. "Trata-se de uma federação de líderes regionais, sem unidade nacional, mas com uma imensa força política. É uma situação que faz com que cada um desses grupos regionais tenha interesses próprios, e barganhe separadamente esses interesses", diz o cientista político Cláudio Couto, professor da PUC de São Paulo e da Fundação Getulio Vargas. Foi por esse motivo que, em outros tempos, Fernando Henrique Cardoso definiu o PMDB como um "partido-ônibus". Forte e sem um projeto nacional, o partido tende a aprofundar o fisiologismo que permeia suas relações com os governos desde a redemocratização em 1985.

Por isso, o presidente Lula deve pôr as barbas de molho. "O PMDB ainda vai gerar muita dor de cabeça ao PT e ao governo até 2010", aposta Couto.

Na terça-feira 28, por exemplo, a cúpula peemedebista reuniu-se num almoço na casa do líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). "A decisão do comando do partido é que nós ofi- cialmente só vamos tratar da sucessão de 2010 a partir do segundo semestre de 2009", disse o deputado Eunício de Oliveira (CE). A sinalização é clara: já não há, hoje, qualquer compromisso automático de apoio à candidatura do governo nas próximas eleições. Nas avaliações feitas ao longo da semana, a cúpula peemedebista começou a desconfiar das chances de sucesso do projeto de Lula de tornar a sua ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff , a próxima presidente da República. "O projeto Dilma dependia de um mar de bonança, com investimentos públicos e projetos sociais. Dificilmente vai ser assim, com essa crise", comentou um importante líder peemedebista.

Ao mesmo tempo, o partido sofre o assédio da oposição – e gosta. Na terça-feira 28, a Executiva do PSDB reuniu-se em Brasília e adotou como uma das suas prioridades explorar dissidências no PMDB. A maior delas já se estabeleceu em São Paulo, com o apoio de Orestes Quércia ao prefeito Gilberto Kassab. Já se iniciaram conversas também com o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça. E acompanha o desenrolar da briga na Bahia entre o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e o governador petista Jaques Wagner. O primeiro resultado da aposta na dissidência acontecerá até fevereiro, na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado. O PSDB resolveu apoiar o PMDB para que o partido presida as duas Casas, para estabelecer a cizânia entre os peemedebistas e os petistas. O PT tem um candidato declarado à presidência do Senado, Tião Viana (AC). "Nossa bancada aqui é a maior. É um direito partidário", avisa o senador Renan Calheiros (AL). Como represália, o PT na Câmara ameaçou retirar o apoio à candidatura de Michel Temer (SP). "Se isso acontecer, o rompimento do acordo pode trazer conseqüências irreversíveis", avisou Temer, lembrando que há uma crise econômica em vista e o governo pode precisar de votos no Congresso. Assustado, na quarta-feira 29, o presidente do partido, Ricardo Berzoini, foi pessoalmente a Temer anunciar que o acordo para elegê-lo estava mantido, independentemente do que acontecesse no Senado.

Há, entretanto, uma remota aposta na hipótese de candidatura própria do PMDB. O projeto é tentar atrair para o partido o governador tucano de Minas Gerais, Aécio Neves. Se o PMDB não conseguir se colocar como alternativa real de poder, o partido poderá se tornar uma grande legenda de aluguel. Resta saber se os peemedebistas querem mesmo ser alternativa de poder ou se preferem ficar sempre como base de sustentação do governo. Qualquer que seja o governo.