O Brasil está passando pelo mais complexo processo eleitoral da história republicana. A 7 de outubro ocorrerá o primeiro turno da eleição. Três semanas depois — pois nada indica que um candidato vai alcançar a maioria absoluta dos votos válidos — será escolhido o novo presidente da República. A indefinição é tão grande que, inicialmente, não é possível desenhar qualquer cenário para o segundo turno, isto porque sequer são conhecidos, efetivamente, os candidatos. Muitos dos quais que propalam aos quatro ventos que pretendem à Presidência da República não vão registrar suas candidaturas. Aproveitam do momento — o vazio existente — para ocupar espaço aguardando o instante para postular outros cargos. Ou, como o presidente Michel Temer, com o claro objetivo de desviar o noticiário das graves acusações de corrupção. No caso do amigo do coronel Lima, a manobra, de tão patética, já foi abandonada.

Tudo indica que teremos uma eleição presidencial muito próxima, no sentido da sua dinâmica, da realizada em 1989 — depois de um interregno de 29 anos sem eleger diretamente o presidente da República. Foi uma eleição solteira, diferentemente da atual, e que permitiu um segundo turno com dois postulantes que não representavam o status quo: Fernando Collor e Lula. Os grandes partidos fracassaram. O PMDB — que chegou, na eleição anterior, a ter a maioria absoluta dos constituintes, em 1986 — obteve apenas 4% dos votos com Ulysses Guimarães.

Havia no ar um sentimento de cansaço, de enfado, de desalento com os políticos tradicionais.

Quase trinta anos depois, o sentimento é o mesmo mas com, no mínimo, uma diferença: esta é uma eleição geral, envolve as 27 unidades da federação e a renovação de toda Câmara dos Deputados e de dois terços do Senado. Isso poderia dar ao processo eleitoral uma similitude com 2014, 2010 ou 2006. Mas não. Desta vez há uma clara dissociação entre a escolha para a Presidência da República e o restante da eleição. Dá-se ao Executivo federal um protagonismo e um poder de decisão frente à grave crise que vivemos muito acima das suas possibilidades reais, legais e constitucionais. Novamente o Presidente é alçado a uma missão impossível e dependendo dos resultados das urnas poderá terminar seu mandato muito antes do prazo constitucional.

No Brasil a história se repete — sempre. Aqui o raio cai, várias vezes, no mesmo lugar. Mas onde está a saída?

Novamente o Presidente é alçado a uma missão impossível e dependendo dos resultados das urnas poderá terminar seu mandato muito antes do prazo constitucional