Durante a Copa do Mundo de futebol, uma das áreas verdes de Moscou acolherá milhares de torcedores em busca de diversão: a instalação de uma ‘fan zone’ do torneio em um parque histórico ao lado da Universidade de Moscou provocou a irritação de grupos de estudantes, preocupados com possíveis destruições.

Essa ‘fan zone’ tem capacidade para até 25.000 pessoas e será palco de shows, espetáculos e, sobretudo, o lugar onde milhares de torcedores poderão acompanhar os jogos em um telão, de 14 de junho a 15 de julho.

Mas para os 6.000 estudantes e funcionários da universidade moscovita, a ‘futebolmania’ não gera unanimidade.

Em torno dessa ‘fan zone’ foi gerado um movimento de descontentamento que preocupa os organizadores, que realizaram grandes investimentos para melhorar a imagem de Moscou e da Rússia, em um momento de especial tensão diplomática.

“Começamos a nos manifestar quando nos disseram no ano passado que nosso semestre seria encurtado devido à fan zone”, explica à AFP Maria Chekochkina, que prepara uma tese nessa universidade.

Os serviços secretos (FSB, antigo KGB) exigiram que os laboratórios da universidade fechassem suas portas durante a Copa do Mundo, temendo que materiais radioativos utilizados lá caíssem em mãos erradas.

“Há também o risco de que os estudantes sejam expulsos de seus quartos para dar seus lugares à Guarda Nacional”, protesta Maria Chekochkina, de 26 anos.

Para diminuir a irritação dos estudantes, as autoridades russas afastaram a ‘fan zone’ 300 metros da universidade. Mas para Maria, isso não resolve o problema.

Em 22 de maio, cerca de 200 estudantes protestaram de novo, dessa vez sob vigilância do FSB.

“Há muitos membros do FSB aqui, começamos a reconhecê-los”, afirma a estudante.

Dias depois, um painel que anunciava a instalação para a Copa foi pintado com uma mensagem em letras vermelhas que dizia “Não à Fan Zone”. Três estudantes foram detidos por “vandalismo” e depois liberados.

– “Não é uma boa ideia” –

Dmitri Petelin, um dos líderes do movimento, declarou ao site de notícias Meduza que foi chamado pela polícia e ameaçado de ser expulso da universidade.

Nas redes sociais, a universidade pediu aos estudantes que não participem das manifestações.

Com uma chapa de “Stop a Fan Zone”, Ekaterina Palmina, uma estudante de 19 anos, está preocupada com o impacto ecológico que esta pode ter no parque Vorobiovy Gory.

“Não estamos dizendo que todos os torcedores de futebol são animais selvagens, simplesmente achamos que não é uma boa ideia colocar 25.000 pessoas em um lugar em que a natureza está protegida”, afirma.

Em alguns lugares árvores foram cortadas e calçadas de granito, um legado histórico, foram destruídas, indica a jovem. O departamento de Biologia da universidade organiza passeios pelo parque para mostrar os danos provocados pela construção da ‘fan zone’.

Mais de 14.000 pessoas, entre elas ativistas ambientalistas mas também simples cidadãos, assinaram uma petição que solicitava ao presidente Vladimir Putin que deslocasse a ‘fan zone’.

Para Elena Rusakova, membro da oposição na capital russa, a ‘fan zone’ é “completamente ilegal” porque está em dois lugares protegidos: o parque da universidade e a floresta de Moscou.

“A FIFA diz que a Copa não deve prejudicar o meio ambiente do país que a acolhe, mas isso é justamente o que está acontecendo aqui”, lamenta.

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