Os palestinos aplaudiram nesta quarta-feira (6) o cancelamento do amistoso entre as seleções de Israel e Argentina, que seria disputada em Jerusalém, enquanto o governo israelense denunciava um ato de “terrorismo esportivo”.

A Federação de Futebol Israelense acusou a Federação Palestina de “terrorismo esportivo”, afirmando que ameaças levaram a Argentina a cancelar a partida.

Os palestinos negaram as acusações e indicaram que os argentinos desistiram de jogar ao se darem conta de que Israel usava sua presença com fins políticos.

A disputa foi cancelada na terça-feira após uma campanha palestina que foi iniciada pelo anúncio de que o amistoso seria realizado em Jerusalém.

“Estamos enfrentando um ato de terrorismo esportivo pela Federação de Futebol Palestina e de seu presidente. Não se trata simplesmente de outro discurso diante do congresso – da Fifa – (…), mas de ameaças contra os jogadores que vêm a Israel”, disse à imprensa o vice-presidente da Federação Israelense, Rotem Kamer.

Os locais para acompanhar a partida estavam esgotados, mas os palestinos se opuseram fortemente. Reivindicam a parte oriental de Jerusalém, ocupada e anexada por Israel, para que seja a capital do Estado ao qual aspiram.

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel irritou os palestinos que protestam regularmente, principalmente na fronteira do Estado hebreu com a Faixa de Gaza.

Em um primeiro momento, a partida aconteceria em Haifa, no norte de Israel, mas decidiu-se que seria jogada em Jerusalém depois que a ministra israelense de Cultura e Esportes, Miri Regev, pressionou nesse sentido.

Israel considera Jerusalém como sua capital indivisível.

Para Israel, que organizou a partida coincidindo com o 70º aniversário de sua fundação, o cancelamento do evento segue outros similares, relacionados ao conflito com os palestinos.

Regev afirmou que o cancelamento do amistoso se devia “exclusivamente às ameaças dos terroristas contra Messi, membros de sua família e outros jogadores argentinos”. A ministra não deu mais detalhes sobre essas ameaças.

Israel está submetido há décadas a uma campanha mundial de boicote pela ocupação e colonização dos Territórios Palestinos. A partida também suscitava perguntas na Argentina, sobretudo em termos esportivos, em um período crucial da preparação da Copa do Mundo da Rússia.

– ‘Cartão vermelho’ para Israel –

O presidente da Federação Palestina de Futebol, Jibril Rajoub, afirmou que o cancelamento representa um “cartão vermelho” para Israel.

“O que aconteceu é um cartão vermelho do resto do mundo aos israelenses”, declarou o dirigente à imprensa, agradecendo aos argentinos por terem cancelado a partida.

Rajub teria pedido no domingo a Messi, uma estrela nos Territórios assim como no resto do mundo, que não jogasse, e solicitou aos palestinos que “queimassem” a sua camisa se fosse necessário.

“A Associação de Futebol Argentino (AFA) cancelou o acordo assinado com os israelenses porque chegou à conclusão de que era uma partida com fins políticos”, acrescentou.

Nesta quarta-feira em Barcelona, o presidente da AFA, Claudio Tapia, atribuiu o cancelamento do amistoso a questões de segurança e pediu que seja considerado como uma contribuição à paz entre palestinos e israelenses.

“A minha responsabilidade como presidente da AFA é lutar pela segurança da minha equipe, por isso tomei essa decisão. Espero que seja vista como uma contribuição à paz mundial”, afirmou Tapia à imprensa, sem aceitar perguntas.

A mídia israelense revelou que, na terça-feira à noite, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ligou para Mauricio Macri, com quem tem boa relação, para tentar salvar a disputa. No entanto, o presidente argentino teria dito que não podia intervir.

Netanyahu está em viagem pela Europa e seu gabinete não pôde confirmar imediatamente essas informações.

Na terça-feira, a embaixada de Israel em Buenos Aires anunciou a “suspensão” do amistoso, assegurou que houve “ameaças e provocações” contra Lionel Messi, “que, logicamente, suscitaram a solidariedade de seus colegas”.

– ‘Ameaças a jogadores’? –

Antes de anunciarem o cancelamento da partida, o chanceler argentino, Jorge Faurie, disse que “também teria pesado uma campanha de ameaça aos jogadores que viralizou na imprensa”.

“O próprio diretor técnico da seleção (Jorge Sampaoli) pediu que não fizessem mais amistosos e que a seleção se concentrasse na primeira partida na Rússia”, acrescentou.

O jogo entre Israel e Argentina seria o último de preparação antes da Copa da Rússia, na qual a alviceleste estreará contra a Islândia, em 16 de junho, pelo grupo D.

De acordo com o jornal argentino Clarín, a AFA já teria recebido 1,5 milhão de dólares pelo amistoso.

Desde que foi anunciada a disputa, o Sampaoli não parecia convencido sobre sua oportunidade.

“Não sou eu quem decido quando e contra quem jogamos”, declarou após a vitória por 4 a 0 contra o Haiti, em um jogo disputado em 29 de maio em Buenos Aires.

“No fim pôde se fazer o certo. Já ficou para trás. Obviamente, primeiro a saúde e o senso comum”, assegurou o atacante Gonzalo Higuaín depois do cancelamento.