Lloris e Pogba disputam ‘chefia’ da seleção francesa

Após duas semanas de concentração da seleção francesa, que se prepara para disputar a Copa do Mundo da Rússia, duas correntes de liderança emergem na equipe: de um lado as personalidades mais quietas do elenco, representadas pelo goleiro Hugo Lloris, do outro as mais extrovertidas, como Paul Pogba.

“Me diga: quem é o chefe da seleção da França?”. Pogba não mediu palavras em entrevista publicada na terça-feira pela revista France Football, ao afirmar que havia “uma falta” de liderança nesse sentido. “Eu quero ser o chefe da seleção francesa”, continuou o meia do Manchester United.

O debate recorrente na imprensa e entre os torcedores entorno dessa tal ‘falta de liderança’ na França parece ter chegado ao elenco.

Na última quinta-feira, antes da publicação dessa entrevista, Lloris já havia mandado um recado a Pogba: “‘Chefe’ talvez seja uma palavra forte, mas ser um líder é o que esperamos dele, dentro e fora de campo. Ele está chegando à maturidade. É importante que ele se concentre nele mesmo e em sua performance, é a melhor maneira de dar o exemplo”.

O atual capitão dos Bleus (97 jogos pela seleção) “não é alguém de volúvel: Hugo é um líder técnico que vai saber quando falar, nos momentos certos. Ele fala pouco, mas bem”, elogiou Franck Raviot, preparador de goleiros da França. “Autoridade não é se expressar excessivamente e querer se fazer ouvir”.

Lloris sempre acaba sendo citado como um dos líderes da equipe quando os próprios jogadores são questionado a respeito, assim como os experientes Steve Mandanda (33 anos) e Blaise Matuidi (31).

– Varane busca afirmação –

Esses jogadores, porém, não são muito comunicativos. “Geralmente buscamos alguém que fale muito, que ‘late’ em campo. É preciso saber transmitir serenidade, também é muito importante, talvez até mais importante”, analisou o zagueiro Raphaël Varane na terça-feira.

Aos 25 anos, Varane, vice-capitão dos Bleus, se inclui sem titubear entre os líderes da seleção, citando os “sete anos no Real Madrid” e as “quatro Ligas dos Campeões em cinco anos”. E toda experiência vem acompanhada de cicatrizes.

“O fato de se chegar muito cedo ao alto nível, muito jovem, faz com que cometamos erros, mas isso faz parte do aprendizado”, lembra o zagueiro, referindo-se certamente ao duelo de cabeça perdido contra Mats Hummels, no lance que acabou selando a derrota da França diante da Alemanha por 1 a 0, pelas quartas de final da Copa do Mundo do Brasil-2014.

Da mesma maneira, Olivier Giroud reconhece não ser “alguém que fica latindo em campo. Na minha opinião, o papel de líder não se reivindica. Se tiver algo pra dizer no vestiário, direi”, explica o atacante da França de 31 anos à AFP.

Pogba também é experiente (53 jogos pela seleção), mas sua principal característica é o carisma, que sempre aparece durante o intervalo dos jogos ou nos treinos. Seus companheiros de seleção não hesitaram em defendê-lo publicamente, após o meia sair vaiado pela torcida durante o amistoso França-Itália (3-1).

“Ele sempre dá conselhos, conversa muito no vestiário, para mim é um líder dentro e fora de campo”, garantiu na terça-feira Ousmane Dembélé.

Pogba é também um dos melhores amigos de Antoine Griezmann, considerado o melhor jogador da seleção francesa e um dos pilares da equipe. “Griezmann e Pogba precisam ficar tagarelando, estar à vontade, também são líderes porque fazem os outros rirem, eles são bem tranquilos”, analisou o presidente da Federação Francesa de Futebol (FFF), Noël Le Graët, à AFP.

– Mendy e Rami –

Griezmann é sempre muito expressivo e brincalhão durante os treinos, características que, aos 27 anos, o atacante faz questão de mostrar para fugir da responsabilidade de ser o líder da equipe.

Pogba e Griezmann fazem parte de um grupo de jogadores que se reúne para jogar cartas ou dados, assim como Benjamin Mendy, Kylian Mbappé e Dembélé, e às vezes Florian Thauvin e Thomas Lemar.

Mendy é peça-chave do grupo. “Ele traz o bom humor, deixa o ambiente mais leve, isso ajuda a equipe”, elogia Lemar.

E também há o caso de Adil Rami, jogador experiente que também brilha pela jovialidade. Queridinho da imprensa por nunca fugir da polêmica, Rami pode ser visto nos treinos orientando e ajudando os colegas mais novos como Mbappé: “Vamos Kylian, mais maldade aí, irmão!”.

“Eu tento passar minhas qualidades de guerreiro, de caráter. Vamos enfrentar equipes que estarão nos esperando, que vão entrar duro, nos machucar. É aí que posso ser útil, sendo titular ou não, para explicar para todos esses jogadores talentosos que, às vezes, é preciso deixar esse talento de lado e ir pro embate”, garante o zagueiro do Olympique de Marselha.

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