Entre os buracos de um campo em que as linhas estão apenas visíveis, os jovens do sub-13 do FK Balabanovo tentam mesmo assim marcar gols. Uma cena que traduz com precisão a imagem de um futebol amador russo subdesenvolvido e que sofre com a falta de infraestrutura, longe da Copa e de seus estádios novos.
Cerca de uma dezena de espectadores, na maior parte amigos e parentes dos atletas, assistem à partida das arquibancadas do principal estádio desta cidade de 20.000 habitantes.
Os jovens do clube local enfrentam o FK Melodia, oriundos de uma cidade situada 50 km ao norte, em jogo válido pelo campeonato da região de Kaluga (sul de Moscou).
Em Balabanovo, as irregularidades do campo e o gramado falho fazem o espectador desistir de esperar qualquer qualidade de jogo. Aqui, o futebol se baseia no chutão para frente e na esperança de que o quique da bola não destrua as raras ações de perigo de gol.
Existem centenas de estádios como o de Balabanovo por toda a Rússia, onde o clima e a imensidão territorial dificultam a manutenção das infraestruturas esportivas de qualidade e a organização de torneios locais.
Isso explica em parte o motivo do futebol amador ser tão subdesenvolvido na Rússia: somente 2.000 equipes amadoras coexistem no maior país do mundo, um número alarmante segundo a Federação Russa de Futebol (RFS).
Em comparação, a RFS explica que 160.000 equipes amadoras se enfrentam todo fim de semana na Alemanha. A perspectiva da Copa do Mundo poderia ter ajudado a desenvolver o futebol russo, mas, além de alguns campos de treinamento usados que serão usados por seleções classificadas, poucos novos campos foram construídos.
“Eu estou esperando pela Copa do Mundo, mas assistirei na televisão. Sim, será lindo, estamos orgulhosos. Mas me parece que algo poderia ter sido feito para regiões como esta”, resume Roman Kirilovski, estudante de 21 anos de Borovsk, um vilarejo próximo a Balabanovo.
Toda semana, Kirilovski joga com alguns amigos em um estádio municipal em Borovsk, que no inverno vira ringue de hóquei no gelo. “Não há lugar para jogar: não há muitos clubes de futebol, somente alguns pequenos torneios locais que a gente mesmo organiza”, explica.
– Preço caro –Jovens ou não, federados ou jogando por prazer, a enorme maioria desses jogadores assistirá à Copa do Mundo, que começa em 14 de junho, pela televisão.
Em Balabanovo ou Borovsk, alguns deles tentarão buscar um autógrafo de jogadores das seleções da Alemanha ou Senegal, que escolheram a região, mais precisamente Kaluga, como base para a Copa. Ir ao estádio para ver um jogo, porém, sairia caro demais numa região onde o salário médio em 2017 foi de 38.000 rublos, cerca de 2.300 reais.
“Me ofereceram um ingresso, mas custava 20.000 rublos (1.2000 reais) e eu tenho um salário de 26.000 rublos”, lamenta Andreï Gaïtotov, técnico do FK Balabanovo.
Ingressos mais baratos a partir de 1.280 rublos, cerca de 70 reais, foram colocados à venda para residentes russos, mas em número bem reduzido, para os jogos da primeira fase.
Maxime Natchatoï, operário de 28 anos oriundo de Borovsk, optou por desembolsar 6.300 rublos (380 reais) para assistir ao duelo Sérvia-Costa Rica, em 17 de junho. “Era meu sonho”, justificou esse jogador amador, que precisou fazer alguns sacrifícios para comprar o ingresso.
Ele ainda terá que viajar até Samara, 800 km ao sudeste de Moscou, para assistir ao jogo. “Na imprensa, eles explicam que há bilhetes de trens gratuitos (…), mas são difíceis de conseguir, são poucos”, explica o rapaz, que mesmo assim se diz determinado a fazer o longo trajeto para assistir ao jogo.
ab-tbm/gmo/am