Lionel Messi era uma criança que não queria perder em nada. Superou problemas de crescimento e conquistou o futebol mundial. Quase duas décadas depois de deixar a Argentina, o craque merece uma Copa do Mundo, dizem em sua natal Rosário.

– O menino que queria ganhar –

“‘Leo’ sempre foi competitivo, não queria perder em nada. Vejo ele igual agora, muito focado em sua profissão. Esse sentimento ele sempre transmitiu”, diz Diego Vallejos, amigo “de toda a vida” do astro do Barça.

Vallejos vive na casa de sua infância na rua Estado de Israel, a quatro portas da residências dos Messi no bairro operário General Las Heras, ao sul de Rosário, um porto industrial 310 km ao norte de Buenos Aires.

Amigos e companheiros de colégio compartilhavam o futebol e travessuras, conta este homem de aparência adolescente, ao lembrar de quando pegavam moedas escondidas do avô de Messi para comprar biscoitos.

“Leo era travesso. No futebol era o melhor de todos”, conta Vallejos, alguns meses mais velho que o craque nascido em 24 de junho de 1987. Nada entrava no caminho do futebol. “Quando as ruas do bairro ficavam alagadas, jogávamos ‘aquabol’ com a água até os joelhos”.

O amigo do capitão da seleção argentina derrotada na final da Copa do Mundo do Brasil-2014 confia de que este ano, na Rússia, Messi ganhará o único título que lhe falta.

“O que mais desejo é que Leo ganhe uma Copa, e que seja mérito dele. A Argentina vai ganhar muitas Copas, mas esta quero que seja dele”, diz Vallejos, nascido em 1986, ano do segundo e último título mundial da Argentina.

A casa dos Messi é austera, de fachada simples. Ainda pertence à família do jogador, cujo pai é metalúrgico e a mãe dona de casa.

Na esquina, o que era um terreno baldio se tornou um projeto de construção de campos para os meninos do bairro. Lá jogarão rodeados por um mural onde Messi, com a camisa da seleção, saúda o céu em sua típica comemoração de gol. O camisa 10 do Barcelona compartilha o muro com outro símbolos argentinos como Diego Maradona, as Ilhas Malvinas e as Mães da Praça de Maio.

Algumas quadras ao lado, outro mural de Messi protege o pátio da escola onde cursou o primário há 20 anos e onde já mostrava sua habilidade com a bola.

– Fora de série –

Sentado nas arquibancadas do estádio ‘Marcelo Bielsa’ do Newell’s Old Boys, Enrique Domínguez, 67 anos, se emociona ao recordar de quando teve “o presente da minha vida” ao treinar a geração de 1987 da escolinha do clube. Messi tinha 10 anos, mas já se sobressaía.

“O especial de Leo é a naturalidade”, evoca Domínguez, um dos cinco técnicos que o craque teve na infância. Aos 5 anos, Messi jogava no clube de bairro Abanderado Grandoli, antes de brilhar no infantil do Newell’s.

Pai do ex-jogador Sebastián Domínguez, ainda tem viva na memória uma imagem de seu melhor aluno: enquanto escutava as instruções do professor, fazia embaixadinhas sem parar, ansioso para que começasse o treino. “Leo era o líder natural” dos companheiros, garante Domínguez, que sonha em receber um abraço do ex-aluno.

“Messi é um fora de série, o melhor da história. Compete contra suas marcas, seus próprios recordes, ele vence a si mesmo”, continua.

Domínguez, que era chamado de ‘Papai Noel’ por Messi pela barriga avantajada e a roupa vermelha que usava, acredita que a única coisa que falta para Messi superar o lendário Maradona é uma Copa do Mundo. Na Rússia, será “a última oportunidade com Messi como maior estrela da seleção e do mundo”, sentencia.

– Mais alto que Maradona –

Em 2000, encontrou os Messi em uma encruzilhada. Sem cobertura do plano de saúde para arcar com os custos de um tratamento hormonal e com frustrantes respostas de clubes argentinos, a família viajou para Barcelona. Meses depois, a negociação foi concretizada. De lá, sem escalas, para a glória.

Na Espanha, Messi iniciou o tratamento que permitiu que crescesse até 1,69 m de altura. Em 1997, o endocrinologista Diego Schwarsztein detectou um déficit hormonal e prescreveu injeções diárias.

“Fique tranquilo que você vai ser mais alto que Maradona, não sei se melhor, mas mais alto com certeza”, lembra ter dito a um tímido Messi, preocupado na época com sua baixa estatura.

O médico não imaginava que o paciente acabaria sendo eleito cinco vezes o melhor jogador do mundo, admite à AFP em seu consultório de Rosário.

Schwarsztein quer ver Messi campeão do mundo e, ainda mais, vestindo a camisa de seu amado Newell’s. “Leo não é nem meu discípulo nem meu protegido, mas é uma pessoa da qual me sinto um pouco parte de sua história. Eu adoraria vê-lo campeão”.

ls/sa/am