29/05/2018 - 13:42
Lionel Messi era uma criança que não queria perder em nada. Superou problemas de crescimento e conquistou o futebol mundial. Quase duas décadas depois de deixar a Argentina, o craque merece uma Copa do Mundo, dizem em sua natal Rosário.
– O menino que queria ganhar –“‘Leo’ sempre foi competitivo, não queria perder em nada. Vejo ele igual agora, muito focado em sua profissão. Esse sentimento ele sempre transmitiu”, diz Diego Vallejos, amigo “de toda a vida” do astro do Barça.
Vallejos vive na casa de sua infância na rua Estado de Israel, a quatro portas da residências dos Messi no bairro operário General Las Heras, ao sul de Rosário, um porto industrial 310 km ao norte de Buenos Aires.
Amigos e companheiros de colégio compartilhavam o futebol e travessuras, conta este homem de aparência adolescente, ao lembrar de quando pegavam moedas escondidas do avô de Messi para comprar biscoitos.
“Leo era travesso. No futebol era o melhor de todos”, conta Vallejos, alguns meses mais velho que o craque nascido em 24 de junho de 1987. Nada entrava no caminho do futebol. “Quando as ruas do bairro ficavam alagadas, jogávamos ‘aquabol’ com a água até os joelhos”.
O amigo do capitão da seleção argentina derrotada na final da Copa do Mundo do Brasil-2014 confia de que este ano, na Rússia, Messi ganhará o único título que lhe falta.
“O que mais desejo é que Leo ganhe uma Copa, e que seja mérito dele. A Argentina vai ganhar muitas Copas, mas esta quero que seja dele”, diz Vallejos, nascido em 1986, ano do segundo e último título mundial da Argentina.
A casa dos Messi é austera, de fachada simples. Ainda pertence à família do jogador, cujo pai é metalúrgico e a mãe dona de casa.
Na esquina, o que era um terreno baldio se tornou um projeto de construção de campos para os meninos do bairro. Lá jogarão rodeados por um mural onde Messi, com a camisa da seleção, saúda o céu em sua típica comemoração de gol. O camisa 10 do Barcelona compartilha o muro com outro símbolos argentinos como Diego Maradona, as Ilhas Malvinas e as Mães da Praça de Maio.
Algumas quadras ao lado, outro mural de Messi protege o pátio da escola onde cursou o primário há 20 anos e onde já mostrava sua habilidade com a bola.
– Fora de série –Sentado nas arquibancadas do estádio ‘Marcelo Bielsa’ do Newell’s Old Boys, Enrique Domínguez, 67 anos, se emociona ao recordar de quando teve “o presente da minha vida” ao treinar a geração de 1987 da escolinha do clube. Messi tinha 10 anos, mas já se sobressaía.
“O especial de Leo é a naturalidade”, evoca Domínguez, um dos cinco técnicos que o craque teve na infância. Aos 5 anos, Messi jogava no clube de bairro Abanderado Grandoli, antes de brilhar no infantil do Newell’s.
Pai do ex-jogador Sebastián Domínguez, ainda tem viva na memória uma imagem de seu melhor aluno: enquanto escutava as instruções do professor, fazia embaixadinhas sem parar, ansioso para que começasse o treino. “Leo era o líder natural” dos companheiros, garante Domínguez, que sonha em receber um abraço do ex-aluno.
“Messi é um fora de série, o melhor da história. Compete contra suas marcas, seus próprios recordes, ele vence a si mesmo”, continua.
Domínguez, que era chamado de ‘Papai Noel’ por Messi pela barriga avantajada e a roupa vermelha que usava, acredita que a única coisa que falta para Messi superar o lendário Maradona é uma Copa do Mundo. Na Rússia, será “a última oportunidade com Messi como maior estrela da seleção e do mundo”, sentencia.
– Mais alto que Maradona –Em 2000, encontrou os Messi em uma encruzilhada. Sem cobertura do plano de saúde para arcar com os custos de um tratamento hormonal e com frustrantes respostas de clubes argentinos, a família viajou para Barcelona. Meses depois, a negociação foi concretizada. De lá, sem escalas, para a glória.
Na Espanha, Messi iniciou o tratamento que permitiu que crescesse até 1,69 m de altura. Em 1997, o endocrinologista Diego Schwarsztein detectou um déficit hormonal e prescreveu injeções diárias.
“Fique tranquilo que você vai ser mais alto que Maradona, não sei se melhor, mas mais alto com certeza”, lembra ter dito a um tímido Messi, preocupado na época com sua baixa estatura.
O médico não imaginava que o paciente acabaria sendo eleito cinco vezes o melhor jogador do mundo, admite à AFP em seu consultório de Rosário.
Schwarsztein quer ver Messi campeão do mundo e, ainda mais, vestindo a camisa de seu amado Newell’s. “Leo não é nem meu discípulo nem meu protegido, mas é uma pessoa da qual me sinto um pouco parte de sua história. Eu adoraria vê-lo campeão”.
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