Nagrig, pequena aldeia egípcia na região mais profunda do delta do Nilo, recebeu a doação de um campo de futebol de grama sintética de um patrocinador de Mohamed Salah, o garoto que deixou o vilarejo e se tornou a maior estrela do Liverpool e dos “Faraós”.

O nome do implacável artilheiro dos “Reds” se revela onipresente na região: na boca das crianças que brincam com uma velha bola de couro em um terreno baldio e envolvidos em uma nuvem de poeira, ou na dos que ocupam uma estreita rua de terra perto da casa onde cresceu a atual megaestrela, na governação de Gharbeya, 120 quilômetros a noroeste do Cairo.

Contudo, os egípcios estão apreensivos com a condição física de Salah, que saiu de campo com uma lesão no ombro esquerdo durante a final da Liga dos Campeões da Europa, no sábado, em Kiev, contra o Real Madrid.

Ninguém no Egito, que participa de sua primeira Copa do Mundo desde 1990, quer pensar no pior. Todos se agarram a suas conquistas e seus troféus.

Declarado o Melhor Jogador Africano, Árabe e da Premier League, o atacante de 25 anos colecionou uma impressionante gama de prêmios após sua marcante temporada com o Liverpool.

O último foi a Chuteira de Ouro da Premier League, depois de marcar 32 gols em 38 partidas ao longo do ano, recorde do campeonato inglês.

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Suas chuteiras, inclusive, ganharam um lugar de honra no famoso British Museum, em Londres, junto com antiguidades egípcias.

Em janeiro, quando recebeu a Bola de Ouro Africana, declarou: “nunca deixe de sonhar, nunca deixe de acreditar”. Desde então, todos querem ser “como Mohamed Salah”.

– Vontade de ferro –

Classificado para a Copa do Mundo pela primeira vez em 28 anos, o Egito espera que o filho pródigo tire proveito de sua bem-sucedida experiência no Liverpool, segundo admitiu em entrevista coletiva o treinador argentino dos Faraós, Héctor Cúper.

“Ele tem dois papéis técnicos na Seleção”, expõe o analista esportivo egípcio, Yasser Ayoub. “O primeiro é o seu desempenho pessoal e os gols que puder marcar, o segundo é que sua mera presença permite um melhor rendimento da equipe”.

Segundo Ayoub, as seleções adversárias partem com a desvantagem de ter que destinar dois de seus zagueiros para vigiar Salah.

Antes de pisar nos gramados britânicos, foi no centro juvenil de Bassioun, perto de seu povoado natal, onde “Momo” Salah deu seus primeiros passos como jogador.

“Eu o treinei quando ainda era uma criança, e o seu talento era patente desde o berço”, explica Abdelhamid Ghamri Al-Saadani, ex-treinador do centro de Nagrig, que o hoje astro começou a frequentar com oito anos.

Estimulado por seu pai, o menino-prodígio passou de Nagrig a Bassioun, depois para Tanta (cidade principal de Gharbeya) e, finalmente, à capital.

O atual sucesso do “Faraó da Inglaterra” não se deve unicamente ao seu talento, insiste Al-Saadani, “mas também a uma vontade de ferro, ao seu esforço e sua perseverança”.

Ao se juntar ao Arab Contractors Sporting Club do Cairo, com 14 anos, “tinha que passar 10 horas por dia no transporte para ir treinar”, lembra Maher Shateya, prefeito de Nagrig.


Depois do Cairo, deu um salto à Europa com FC Basel (2012-2014), Chelsea (2014-2015), Fiorentina (2015) e AS Roma (2015-2017), antes de seu retorno triunfal a Premier League com o Liverpool. Entre os dois gols da classificação para a Copa do Mundo do Egito contra o Congo e suas proezas no campeonato inglês, Salah alcançou a elite.

Mas, apesar da glória, o declarado Melhor Jogador Africano não esquece suas raízes: um exemplo disso é que Salah dedicou o troféu a “todos as crianças da África e do Egito”.

– Humildade e generosidade –

Shateya insiste na “humildade” do craque e destaca que ele “faz muito pelas pessoas de sua aldeia”.

Além das quadras da escola, também colaborou na instalação de uma unidade de tratamento intensivo no Hospital Bassioun, a cidade mais próxima, e na criação de uma organização beneficente em Nagrig, dando uma ajuda mensal a pessoas necessitadas.

A religião tem um lugar muito importante na vida de Salah, filho de pais funcionários do governo e de educação conservadora, e um instituto religioso também viu a luz graças a sua contribuição.

Sua única filha se chama Makka (Meca, em árabe), em referência ao primeiro lugar sagrado do Islã, e Salah costuma programar suas férias para que coincidam com o mês do Ramadã, quando vai ao seu povoado para se reencontrar com seus amigos e suas origens.


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