O presidente Daniel Ortega está diante do desafio de abrir espaços democráticos depois de 11 anos de governo, como exigem os protestos em massa iniciados na semana passada e que já deixaram 27 mortos.

Milhares de pessoas se concentraram em Manágua e em outras cidades, na tarde de segunda-feira, para exigir o fim da repressão contra os protestos iniciados pelo anúncio de uma reforma previdenciária, evidenciando a frustração acumulada da população com a gestão de Ortega.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos pediu que “as autoridades nicaraguenses assegurem que haja investigações em breve, profundas, independentes e transparentes sobre essas mortes”.

“As pessoas querem democracia, liberdade, eleições livres, um governo transparente, separação de poderes, Estado de direito, nós queremos liberdade”, declarou, por sua vez, o ex-chanceler nicaraguense Norman Caldera à AFP.

“Se o governo não aceitar, vai ser difícil deter os protestos, pois o povo mostrou que é uma grande maioria, e o aparato repressivo não consegue deter a magnitude dos protestos”, alertou.

– Ortega e Somoza, iguais –

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No início das manifestações, Ortega bloqueou o sinal de quatro canais independentes, embora depois tenha liberado três deles.

A pressão também obrigou Ortega a ceder às demandas e a desistir da reforma do sistema previdenciário, mas os protestos prosseguiram.

Os nicaraguenses parecem fartos, depois das manobras de Ortega para conseguir sua reeleição em 2011 e em 2016, e concentrar o poder, controlar o Congresso, assim como a Justiça e o Tribunal Eleitoral.

“Daniel e Somoza são a mesma coisa”, afirmavam alguns cartazes na marcha de segunda, em alusão ao regime de Anastasio Somoza, cuja família governa com mão de ferro os destinos da Nicarágua desde 1934 e que foi derrubado pela revolução sandinista em 1979.

“Fora Ortega e Murillo”, também gritavam os manifestantes para exigir a saída do presidente e de sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo.

Porta-voz do governo, Rosario Murillo tentou acalmar os ânimos com frases como “temos a fé de sairmos unidos, que somos capazes de voltar a nos entender como nos tempos difíceis e retomar as formas de reconciliação”.

Sua mensagem de paz contrastou com as declarações da semana passada, quando chamou os manifestantes de “vampiros reclamando sangue para nutrir sua agenda política”.

– Menosprezo –

“Desde a volta do sandinismo ao poder, em 2007, até hoje, a democracia nicaraguense foi se desfigurando até se tornar um regime cada vez mais autoritário”, escreveu no Twitter o ex-presidente costarriquenho Oscar Arias, Prêmio Nobel da Paz 1987.

“A reação violenta do governo contra as manifestações causou muita dor ao país”, afirmou o ex-diplomata e ex-presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Alejandro Serrano, falando à AFP.

A violência revelou “um desprezo por parte do poder em relação aos direitos humanos da manifestação, da liberdade de expressão e da democracia, enfatizou.


Já o bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, afirmou que não existem condições para um diálogo e pediu que se detenha “a repressão, que os jovens presos sejam libertados, que se retome a transmissão do (censurado) Canal 100% Noticias e se discuta a democratização do país com todos os setores”.

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