O presidente americano, Donald Trump, disse nesta segunda-feira (23) que obrigar o México a conter o fluxo de imigrantes em situação irregular poderia ser uma condição dos Estados Unidos para a renegociação do Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês).

“O México, cujas leis de imigração são muito duras, poderia deter o fluxo de pessoas que atravessam para os Estados Unidos. Poderíamos fazer disso uma nova condição para nosso novo Nafta”, afirmou, no Twitter.

“Nosso país não pode aceitar o que está acontecendo! Também temos que ter rapidamente fundos para o muro” na fronteira com o México, acrescentou.

O anúncio de Trump foi feito mais de uma semana depois de comentar que as negociações para atualizar o Nafta com México e Canadá “estão caminhando bem”, embora não haja data exata para concluí-las.

O ministro mexicano da Economia, Ildefonso Guajardo, disse recentemente que existe quase 80% de chances de se chegar a um acordo sobre o Nafta no começo de maio. A ministra canadense das Relações Exteriores, Chrystia Freeland, também destacou que as negociações para um acordo estão avançadas.

– ‘Inaceitável’ –

“O México decide sua política migratória de maneira soberana, e a cooperação migratória com os Estados Unidos acontece quando for conveniente para o México”, tuitou o chanceler mexicano, Luis Videgaray.

“Seria inaceitável condicionar a renegociação do Nafta a ações migratórias fora desse marco de cooperação”, acrescentou.

Não é a primeira vez que Trump vincula a relação comercial ao tema migratório.

No início de abril, Trump advertiu o México de que “a galinha dos ovos de ouro do Nafta” está em jogo, se não tomar medidas para deter a caravana de mais de mil migrantes centro-americanos que viajavam para a fronteira com os Estados Unidos.

Seus tuítes e a decisão de mobilizar “até 4.000” membros da Guarda Nacional para reforçar o limite sul do território até 30 de setembro de 2018 tensionaram ainda mais a relação bilateral.

O presidente mexicano rebateu, respondendo que as “atitudes ameaçadoras, ou faltas de respeito,” são desnecessárias, e determinou uma ampla revisão de toda cooperação com os Estados Unidos.

– Pressão sobre caravana de migrantes –

A caravana de migrantes que deflagrou a fúria de Trump no início de abril se reduziu para cerca de 600 pessoas, em sua maioria centro-americanos. Na semana passada, os ativistas que a lideram disseram que ajudariam 200 desses migrantes a solicitarem asilo nos Estados Unidos, porque fogem da violência, ou da repressão.

“O presidente continua monitorando a situação. Uma nação soberana que não pode defender suas fronteiras não será mais uma nação soberana”, disse a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, pedindo ao Congresso que aprove a legislação para acabar com as brechas jurídicas que impedem a proteção das fronteiras.

“Faremos cumprir a lei, processando aqueles que a cruzarem ilegalmente”, garantiu a secretária de Segurança Interna, Kirstjen Nielsen, garantindo aos membros da caravana que quem procurar asilo pode ser detido, enquanto seus pedidos estiverem sendo processados e que os demais serão expulsos “imediatamente”.

O governo dos Estados Unidos “estimula as pessoas com pedidos de asilo, ou outras reivindicações parecidas, que busquem proteção no primeiro país seguro que ingressarem, incluindo o México”, afirmou, em um comunicado.

– Pressão por eleições –

A nova reivindicação de Trump sobre migração e comércio acontece duas semanas depois de o próprio presidente ter dito que as negociações com México e Canadá para modernizar o Nafta “estão caminhando bem”.

Peña Nieto fez essa mesma avaliação, após se reunir com o vice-presidente americano, Mike Pence, em paralelo à Cúpula das Américas em Lima, em meados de abril, embora tenha dito que “não há absolutamente data alguma” marcada para assinar um novo Nafta.

Na época, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, reconheceu a necessidade de obter avanços diante de um pesado calendário político.

“Existe, definitivamente, um momento positivo, e estamos avançando. É um desejo e um reconhecimento que os prazos que as eleições do México e as de meio de mandato nos Estados Unidos nos impõem significa que temos certa pressão para avançar nas próximas semanas”, disse ele em Lima.

Desde a campanha eleitoral, em 2016, Trump ameaça retirar os Estados Unidos do Nafta, apesar de a indústria americana e de membros do Partido Republicano alegarem que o país se beneficia desse acordo em vigor desde 1994.

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