Mais de 20 pessoas teriam morrido na onda de protestos que estremece a Nicarágua e que põe o presidente, Daniel Ortega, contra a parede, informou neste domingo um organismo de direitos humanos.

O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) disse que estava tentando verificar o número exato de vítimas fatais, mas que este ultrapassa 20, desde que começaram, na quarta-feira, protestos violentos contra uma reforma do sistema previdenciário.

“Nossas contas indicam que já passam de 20 mortos, mas estamos verificando porque há muita desinformação. A situação é verdadeiramente grave e excede nossas possibilidades de confirmar”, disse à AFP a presidente do Cenidh, Vilma Núñez.

A AFP consultou a polícia e o governo para confirmar a informação, mas não obteve resposta.

As ruas de Manágua estavam cheias de escombros na manhã deste domingo, após uma noite de bloqueios e confrontos.

– Pedido do papa –

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Neste domingo, o papa Francisco pediu o fim da violência na Nicarágua.

“Estou muito preocupado com tudo o que está acontecendo nesses dias na Nicarágua. Expresso minha proximidade com a oração por este país amado e me uno aos bispos para pedir o fim de toda a violência, evitando um derramamento de sangue inútil, e que as questões abertas se resolvam pacificamente e com senso de responsabilidade”, disse, após a oração Regina Coeli, na praça de São Pedro do Vaticano nesta manhã.

Numa tentativa de controlar a tensão, o presidente Ortega pediu, no sábado, para dialogar com o setor privado, que aumenta as contribuições dos trabalhadores e dos empregadores para garantir a estabilidade financeira do Instituto Nacional de Previdência Social (INSS, na sigla em espanhol) da Nicarágua, que paga aposentadorias.

No entanto, sua mensagem gerou repúdio entre outros setores que se uniram espontaneamente aos protestos por se sentirem excluídos, piorando ainda mais os ânimos.

O autodenominado movimento OcupaINSS, um dos que iniciou os protestos, queixou-se que o diálogo “deveria incluir as vozes de todos os setores que pediram uma discussão ampla e inclusiva (…) sobre a forma autoritária e sem consultas como as decisões vêm sendo tomadas”.

O grêmio empresarial também respondeu a Ortega que “não pode haver diálogo” se o governo “não interromper imediatamente a repressão policial” e respeitar a liberdade de manifestação e de imprensa.

– Mal-estar –

Grupos que se organizaram para participar dos protestos anunciaram uma marcha à Universidade Politécnica da capital, epicentro das manifestações, onde centenas de estudantes estão entrincheirados.

As câmaras empresariais também convocaram uma marcha na capital na tarde de segunda-feira,

Segundo Ortega, os protestos são estimulados por grupos políticos críticos de seu governo e que recebem financiamento de setores extremistas dos Estados Unidos.

Analistas e a cúpula empresarial concordam que os protestos “vão além do descontentamento com as reformas do sistema previdenciário”.


“Não se via isso há anos na Nicarágua”, afirmou à AFP Carlos Tünnermann, ex-embaixador da Nicarágua ante a OEA e os Estados Unidos.

Os protestos ocorreram “em quase todas as cidades do país, em todas as universidades e foram reprimidos com violência pelo governo. Isso significa que há um mal-estar da população não só pelas reformas, mas pela maneira como o país é conduzido”, disse Tünnermann.

O governo anunciou na noite de sexta-feira que o jornalista Miguel Ángel Gahona morreu no sábado por um disparo na cidade caribenha de Bluefields, enquanto transmitia um confronto entre policiais e manifestantes ao vivo pelo Facebook.

“Achamos que foi um franco-atirador que fez o disparo. Não foram os jovens (…). Os únicos que andavam armados eram policiais”, disse sua colega Ileana Lacayo à emissora Canal 15.

Durante os protestos que atingem o país desde quarta-feira passada, jornalistas de veículos de comunicação independentes foram agredidos e tiveram equipamentos de trabalho roubados.

O governo também bloqueou a transmissão de quatro meios independentes, embora apenas um continue fechado.

A reforma previdenciária desenhada pelo governo de Daniel Ortega tem como objetivo resolver um déficit de 76 milhões de dólares no instituto de previdência social do país.


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