O governo analisou nesta quinta-feira (12) a possibilidade de uma ação contra a Síria considerando “necessário tomar medidas” contra a utilização de armas químicas, apesar de as pesquisas mostrem que o público é reticente a uma intervenção militar.

“O governo percebeu que é necessário tomar medidas para impedir a utilização de armas químicas por parte do regime de Al Assad”, declarou um porta-voz de Downing Street após uma reunião convocada de emergência para “discutir qual resposta adotar diante dos acontecimentos na Síria”.

O executivo considerou “muito provável” a responsabilidade do regime de Bashar al Assad no suposto ataque químico perpetrado neste sábado contra a cidade rebelde de Duma, que matou “até 75 pessoas”.

Tanto entre a maioria parlamentar como na oposição, muitas vezes exigem que os deputados antes de qualquer decisão sejam consultados sobre essa questão.

– Consulta ao Parlamento –

“O Parlamento deve se envolver antes da aprovação de qualquer operação militar”, declarou no Twitter o deputado conservador Zac Goldsmith.

O presidente da comissão parlamentar de Defesa, o conservador Julian Lewis, apontou suas reservas ao considerar que uma intervenção militar britânica reforçaria os grupos extremistas.

“O que temos na Síria é uma escolha entre monstros de um lado e loucos de outro”, considerou.

O chefe da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, agitou espectro da guerra do Iraque para incitar o Executivo a consultar os deputados.

“As lições tiradas do [da intervenção britânica no] Iraque é que deve haver um processo apropriado de consulta” ao Parlamento, afirmou.

Formalmente, Theresa May pode envolver seu país em uma ação militar sem consultar o Parlamento, que não se reunirá até o dia 16 de abril.

No entanto, se fizesse isso, iria contra a vontade de 61% dos britânicos, que consideram “necessário” um voto no Parlamento sobre esta questão, segundo uma pesquisa de YouGov realizado entre 3.230 pessoas (com 18% contra e 21% de indecisos).

– A grande sombra do fiasco no Iraque –

Seu antecessor, David Cameron, não conseguiu em agosto de 2013 o apoio da Câmara dos Comuns a uma resposta militar ao primeiro uso de armas químicas por parte de Al Assad contra a população civil.

Em duas ocasiões, Londres participou de bombardeios contra a organização Estado Islâmico na Síria e no Iraque sem consultar os deputados.

A desastrosa invasão do Iraque em 2003 e seu posterior ocupação, que resultou na morte de 179 soldados britânicos e manchou o legado do então primeiro-ministro, o trabalhista Tony Blair, ainda ronda o Reino Unido.

Uma pesquisa do jornal The Times publicado nesta quinta-feira revelou que somente 22% dos britânicos aprova uma operação militar contra Al Assad.

May conta apenas com uma limitada maioria absoluta na Câmara dos Comuns graças a um pacto com os unionistas norte-irlandeses, e o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, exigiu, como também fizeram alguns deputados conservadores, que qualquer passo conte com o apoio do Parlamento.

Em pleno processo de saída da União Europeia, a primeira-ministra se vê igualmente confrontada à necessidade de agradar a Casa Branca, que não tem hesitado em culpar também Moscou pelo ataque.

“O presidente (Trump) considera a Síria e a Rússia responsável deste atentado com armas químicas”, disse a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders.

al/pa/sgf.zm/cc/mvv